pronto... e agora tenho de vestir a pele da pessoa séria que também sou e dedicar as próximas horas a cogitar intensamente acerca de uma cena a que em estrangeiro se chama historical environmental liabilities embora hoje tenha acordado com o diabo por dentro que não pára de me dizer fuck it and go to Paris, drink red wine and write a book in blood red ink. (foda-se que às vezes juro que tenho medo do que me passa pela cabeça)
rasguei-te a pele com os dentes, mordi-te coração e cuspi-o, limpei a boca e segui.
31.8.11
lembro-me da sensação de abandono. não sei se do mundo em relação a mim se de mim em relação ao mundo. mas lembro-me da sensação de abandono. e da ofegante necessidade de encontrar algo a que agarrar as mãos. mas uma espécie de nevoeiro denso ocupava tudo em volta. ainda assim, lembro-me também de conseguir ver através. mesmo sem conseguir ver nada no pequeno círculo em volta. e os sons. e as vozes. as vozes que se não calavam. e os gritos que às vezes saíam calados mas sempre em forma de estilhaços afiados. e a agonia. a agonia de ter de largar o que parecia ser tudo. e aquela sombra sempre presente dizendo "deixa-te morrer, deixa-te morrer, deixa-te morrer". às vezes a luz é tão escura como as trevas. sabiam?
um dia (há muitos muitos muitos anos) alguém me disse "espero que não te arrependas". eu não me arrependi, mas tive várias dúvidas ao longo do percurso. e já houve casos em que eu própria tive vontade de dizer "espero que não te arrependas" a uma ou outra pessoa. nunca disse. em alguns casos porque não havia grande utilidade. já noutros porque secretamente desejei (e em alguns, embora muito muito muito poucos, ainda desejo) que se arrependam à séria e batam com a cabeça num muro de pedra até esguichar sangue. sim, às vezes também sou um bocadinho má.
30.8.11
28.8.11
e depois de Nietzsche no Fábulas apareceu alguém que faz sempre X ter vontade de rir e a tarde acabou na Gardénia de onde X saiu com quase 10 cm a mais e pronta a enfrentar a insanidade que os próximos meses prometem. mas X também trouxe dois livros de poesia da Fnac. é que só assim X conseguirá manter o equilíbrio em cima daqueles saltos.
acordei com vontade de ler Schopenhauer. devo ter dormido com os pés de fora. vou pegar no Nietzsche e vou para uma esplanada qualquer. fica assim a meio. e pode ser que a vontade de Schopenhauer me passe. e que amanhã continue a achar que o mundo e as gentes são dignos de esperança. é que eu acredito. ainda que às vezes se me acometam dúvidas várias.
a verdade é que não suporto que me tirem fotos. detesto máquinas de outros apontadas a mim. se calhar porque detesto que me vejam. ou que me fixem numa imagem. detesto coisas cristalizadas. mas não é só por isso que fujo das câmaras. é mesmo pânico do palco. da mesma forma que detesto falar em público. ou atender o telefone a números desconhecidos. ou anónimos. e detesto ter público enquanto estou com a minha câmara. é como se fosse um jogo só meu. e não consigo tirar fotos com ruído. nem com gente ao lado. mas gosto de fotografar pessoas. sobretudo pessoas. gosto de apanhar emoções. mas é-me difícil fazê-lo. porque penso sempre que do outro lado pode estar alguém como eu. e porque tenho a certeza que a imagem não é real quando alguém nos aponta uma câmara. e eu gosto sobretudo de coisas com verdade. o cinismo agonia-me. a mentira também. mesmo que seja em forma de imagem.
27.8.11
26.8.11
Mogwai - Acid food
havia algumas estrelas e algumas nuvens e alguma relva ainda e eu tinha os pés descalços colados à terra mas quase sempre vi de cima como vêem os anjos e hoje acompanharam-me na volta e algures a sul ficou um pouco mais do que ainda resta e isso foi bom porque às vezes temos de deixar para trás quem tem de ficar para trás mesmo que isso nos deixe um bocadinho mais vazios
Não é meu hábito recomendar livros. Até porque os livros que me interessam, normalmente, não interessam muito a muita gente. De qualquer modo, este livro - do qual, apesar de tudo, ainda não sei se gostei ou não - foi uma surpresa. Não tanto pelo conteúdo, mas antes pelo autor. Não consigo encontrar uma palavra para o definir. Mas não conseguia parar de o ler. Cheguei à conclusão que, apesar de fazer parte de um governo no qual não me revejo nem um bocadinho, o nosso ministro da economia é o tipo de louco ao qual eu acho piada.
15.8.11
e ontem X acordou muito cedo, foi à rua, comprou fruta e tabaco, tomou café, voltou a casa, deu comida à gata, ligou a música - escolheu punk-rock de adolescente - e limpou a casa - pela primeira vez desde há muito com vontade de limpar a casa - e saltou e pulou enquanto lavava a loiça e outras coisas assim. pelo meio X ia arrumando a mochila, pegando no material de campismo, o micro-mini-fogão, a lanterna, o saco cama, X não pode esquecer-se do saco cama, champô, protector solar, cremes, aquele perfume, X não vive sem aquele perfume, e roupa? que roupa levar? não ténis não. só havaianas. os anéis, os anéis não podem ficar esquecidos. e o colar que se abana e chama anjos. esse também não. mas será possível que X só tem dois biquinis de jeito? e o secador de cabelo, X não pode sair sem o secador de cabelo. e a geleira e os copos para o gin... sim, agora X acha que está tudo! X mete-se no carro, liga a música, faz uma viagem de mais ou menos 400 km só com Mogwai, alguns temas ouve até ao limite do repeat, chega ao destino, abre a mala do carro e: X sabe que anda com a cabeça meio no ar mas logo o raio da tenda é que tinha de ter ficado em Lisboa?
13.8.11
Acordei com vontade de ouvir isto. Tenho para mim que é por causa daquele berro inicial que é igualzinho ao que me apetecia dar agora. Para além disso a Wendy James sempre me deixou dúvidas.
11.8.11
tem-me dado para pensar acerca do papel das pessoas que vão cruzando connosco. tem-me dado para pensar na forma como as vidas se fazem em teias. também me tem dado para pensar nos maus resultados que às vezes isso dá. mas, ainda assim, o que realmente me tem incomodado nesta questão é perceber que, no limite, temos sempre como mais importante o efeito das coisas em nós do que nos outros. e isso é profundamente egoísta. por outro lado, somos quase sempre tão previsíveis. até na inconstância. e, quando tudo nos parece tão incrivelmente novo, o resto, amiúde, passa a ter menor significado. e isso é também bastante estúpido. é que, às vezes, as coisas explodem. e quando há explosões, há quase sempre danos colaterais. ou seja, a vida é uma espécie de equação, e os desvios de cálculo - ainda que mais ou menos voluntários - levam-nos a enveredar por caminhos - às vezes, até profundamente errados - que, no lado mau da hipótese, terão influência decisiva em resultados alheios. e, às vezes, isso parece ser de importância menor. e é exactamente aqui que não consigo decidir se isso é bom ou não. é que, quando alguém diz eureka, outro alguém fica profundamente ferido. mas isso, quase sempre, é problema do outro alguém. e é este pormenor que é uma grande filha da putisse. pecado esse de que eu, apesar de tudo, também não estou isenta.
10.8.11
9.8.11
quero dizer qualquer coisa, mas não sei bem o quê, está tudo confuso, sabes aquela porta por onde entravam os pesadelos em tons laranja e labareda?, ameaça reabrir-se, mas a fragilidade do corpo nú traz angústia, e sons sibilantes que arrepiam, continuo a querer dizer qualquer coisa, mas não sei bem o quê
8.8.11
tentei lembrar-me. mas as formas, texturas e sons perderam-se irremediavelmente. suponho que isso é bom. já não sei como era. só como gostaria que tivesse sido. não, não quero regressar. e isso não é uma decisão. é antes uma consequência. mas adeus não é suficiente. seria antes necessário um big bang ao contrário.
5.8.11
3.8.11
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