x levou muito tempo a desconstruir-se. a deixar para trás o que tem de lá ficar. e a deixar o futuro entrar-lhe no corpo. devagarinho, x começou a deixar pessoas novas tomar-lhe conta. hoje x volta à vida. à volta de uma mesa. num sítio bonito. com gente bonita. e gin, muito gin. e velas que se sopram em desejos secretos. e risos de quem se perdeu e reencontrou. e abraços e promessas de amanhã.
rasguei-te a pele com os dentes, mordi-te coração e cuspi-o, limpei a boca e segui.
31.1.15
há exactamente 12 anos, na recta final dos 20s, x teve uma breve - mas espectacular - passagem pelo jornalismo. foram pouco mais de seis meses a trabalhar com hélder pinho, um jornalista excêntrico e algo alucinado, com quem x desenvolveu uma relação de proximidade algo curiosa. nesse tempo, x cruzou-se com algumas das figuras com mais destaque na crítica gastronómica da altura. um dia, numa viagem de trabalho algures para o douro num autocarro cheio de nomes feitos na área, hélder pinho, no seu habitual registo espalha-brasas, levantou-se de braços em riste e berrou - "descobri uma grande jornalista". era x. x corou de vergonha. josé quitério franziu os olhos. david lopes ramos sorriu. josé gomes bandeira passou o resto da viagem na conversa com x. foi um fim de semana absolutamente surreal. hoje, passados 12 anos, x está longe dessa vida. hélder pinho faleceu em 2003. josé gomes bandeira em 2006. david lopes ramos em 2011. e, em 2015, josé quitério termina a carreira. ao ler a notícia no expresso, x não conteve um nó na garganta. e os olhos encheram-se de água. não muito tempo antes de falecer, josé gomes bandeira enviou um presente a x - uma garrafa de vinho da ilha do fogo e algumas palavras "escreve sempre x, nunca, mas mesmo nunca deixes de escrever x. escreve sobre tudo. ou sobre nada. mas nunca deixes de escrever x." 12 anos. parece nada. e a vida no caminho muda tanto.
30.1.15
é assim. os sonhos de x têm, quase sempre, casas. o conceito de casa é muito caro a x. embora quase nunca esteja propriamente relacionado com paredes e tectos. mas é verdade, os sonhos de x passam-se, quase sempre, dentro de casas. casas que, quase sempre, x não conhece. em regra, a casa em si mesma não é muito relevante. a simbologia da casa é que sim. mas hoje foi diferente. hoje x sonhou com a casa onde hoje vive. e sonhou que alguém absolutamente improvável lhe destruiu todas as paredes interiores. como se estivesse a fazer uma remodelação interna à rebelia de x. x ficou petrificada. e em convulsões de choro causado por um misto de raiva misturada com susto. x não sabe o que isto quer dizer. mas pressente que vem ai alguma coisa que lhe vai abalar por dentro.
29.1.15
20.1.15
há muito tempo que x acordava como se voltasse de um sítio profundo sem memórias e, portanto, sem saber se havia sonhado. nas últimas semanas os sonhos de x estão ainda vivos ao acordar. quase todos têm enredos de filme de terror e situações não transferíveis para o mundo real. curiosamente, x não acorda assustada mas antes indiferente a tudo o que vê durante a noite. talvez isto seja reflexo de x estar numa fase em que é também indiferente a quase tudo o que vê durante o dia.
12.1.15
há 10 anos x preparava-se para deixar os 20s. na altura, x vivia numa espécie de casa de fantasia, para onde se havia mudado há não muito tempo. em casa, devia ter pouco mais do que uma mesa, duas cadeiras, alguns restos de loiça desemparelhada e um colchão no chão. x lembra-se da felicidade que foi comprar as primeiras coisas para aquela que seria a sua casa durante pouco mais de 3 anos. há 10 anos, x não tinha grandes planos, mas tinha todas as vontades que lhe cabiam dentro. há 10 anos, x começou uma vida que foi bonita. embora breve. depois, x foi enterrar a vida que havia sido, algures em áfrica. x voltou exactamente 1 ano depois. seguiram-se 8 anos cheios de conquistas, tormentos, descobertas, dores, satisfação, arrependimento, luz e, finalmente, aceitação. hoje, ao preparar-se para deixar os 30s, x está satisfeita com o caminho percorrido. há 8 anos que x sabe o que é, e o que é legítimo querer ser. x chega ao fim dos 30s satisfeita. foram 10 anos do caraças.
6.1.15
5.1.15
Lykke Li - Love me like I'm not made stone
ou de como é muito ténue a fronteira entre a dor de corno e a prostação perante o vazio pela falta de parte do ser; entre o orgulho ferido e as palavras que não chegam para explicar o espaço escuro que a ausência cria na alma; entre a raiva sem nexo e a certeza que aquela dor será para sempre, mesmo que atenuada ou disfarçada pelo tempo; entre a vontade animal de fazer doer também e a impotência perante a enormidade do que é sem razões; entre as ânsias que se extinguem e os corpos se sentem impelidos como se uma força experior os empurrasse aniquilando tudo o que lhes é externo sem que a razão domine ou as vontades importem. sim, é muito ténue a fronteira entre isso tudo, mas o abismo que separa um lado e outro é espectacularmente profundo. para além disso, x já não ouvia lykke li há muito tempo.
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