31.1.18

x está a ser acompanhada por uma equipa médica multidisciplinar por causa de alguns sintomas estranhos que vinha sentindo há uns tempos. depois de uma bateria de exames longa, hoje, finalmente, x teve consulta para discutir os resultados. a médica pegou no relatório e começou a descrever todos os sintomas que x sente há muito tempo. sem tirar nem pôr. estava tudo ali, naqueles números que a x não diziam praticamente nada. no fim, a médica disse "ah e você tem um feitio assim meio de gajo não tem?". x desatou a rir e disse "sim, desde que me lembro de ser gente, por isso essa parte não deve ter tratamento possível!". a médica prescreveu a medicação que x tem de tomar e daqui a dois meses - deus nosso senhor assim permita - estará tudo em vias de estar resolvido. menos a parte do feitio de gajo! 

22.1.18

coisas de que x gosta tanto que até dói:


Kjartan Sveinsson - Credo

20.1.18

e chega o dia em que decides arrumar de vez histórias há muito escondidas da vista. e ao fim de dez anos vais ao sítio onde guardaste o passado, pegas nas coisas atiradas ao molho e fazes a purga final. no fim vai, quase tudo, para o lixo. e tu respiras de alívio.

17.1.18

os livros de x:


x comprou-o há anos. começou a ler, mas na altura o corpo e a mente recusaram-se a continuar. há pouco mais de 48 horas x voltou a ele. e, de um sopro, leu-o de uma ponta à outra. para grande surpresa de x, apesar da linguagem quase hermética - e intencionalmente espiralizada (não é gralha, a palavra que x quer usar é mesmo "espiralizada", de espiral!) - x reconheceu-se claramente ali. por razões (talvez) mais físicas do que mentais, rudolf steiner sempre despertou impulsos pouco simpáticos a x. curiosamente, o próprio livro explica a razão de x lhe ter tido tanta aversão até agora. 
“Love is an adventure and a conquest. It survives and develops like the universe itself only by perpetual discovery. The only right love is that between couples whose passion leads them both, one through the other, to a higher possession of their being. Put your faith in the spirit which dwells between the two of you. You have each offered yourself to the other as a boundless field of understanding, of enrichment, of mutually increased sensibility. You will meet above all by entering into and constantly sharing one another’s thoughts, affections, and dreams. There alone, as you know, in spirit, which is arrived through flesh, you will find no disappointments, no limits. There alone the skies are ever open for your love; there alone lies the great road ahead.”

“Love is an Adventure”
by Pierre Tielhart de Chardin

16.1.18

entre correrias por continentes distintos, doenças, má fortuna, imprevistos vários, cansaço generalizado e falta crónica de tempo e vontade, x não pegava em livros há muito. os de um autor em particular x deixou invisíveis durante anos, escondidos por outros que permitem a x distanciar-se mais daquilo que durante muito tempo x quis evitar a todo o custo. mas ontem x chegou a casa com um enorme reboliço por dentro. e depois de jantar sem grande vontade, em vez de se enrolar no nada como tem sido hábito nos últimos tempos, x dirigiu-se à estante e afastou os livros que camuflavam o resto. no fundo da estante, x reencontrou-se com os livros do rudolf steiner, deliberadamente apartados da vista há muito tempo. x pegou naquele que estava a chamar por si. leu cerca de 100 páginas de um sopro e adormeceu agarrada a ele. há algo de novo na vida de x, embora x não saiba ainda o que é. x não sabe se o rudolf steiner lhe vai dizer o caminho. mas ontem soube-lhe bem a sua companhia.

15.1.18


Sigur Rós - Hrafntinna

porque não há nada como sigur rós. absolutamente nada.
há dias em que  uma força vinda de longe nos cobre o corpo e nos esmaga. e o ar falha-nos. x viveu assim em permanência durante demasiado tempo. depois adormeceu. mas agora está a ressurgir tudo de novo. e de forma avassaladora. x sabe que tem uma porta aberta para um mundo fora de cá. mas evita cruza-la. do outro lado é tudo demasiado. mas x sabe que quando os sentidos se misturam, quando o corpo parece pequeno para tudo o que nos vem, quando os olhos se perdem num horizonte que não é este, quando a mente fica frenética enquanto a boca se fecha, quando o peito parece explodir... é porque chegou a hora de enfrentar, de novo, esse sítio. talvez x consiga compreende-lo agora um pouco mais. 


12.1.18


Sigur Rós - Á

quando x se sente em nó por dentro, volta aqui. e ali mais ao menos a partir do terceiro minuto, o peso que, de quando em vez, a consome por dentro, começa a desenlaçar-se. os olhos abrem como que estivessem a ver cores pela primeira vez. o rosto ilumina-se. os braços parecem abrir-se em forma de asas. e x resgata-se das trevas onde amiúde cai.  quando acaba, x brilha. e mal consegue conter uma espécie de riso infantil que lhe invade a alma. a ouvir isto, x volta à casa de onde nunca quis sair.

Sleeping at last - North
não me agradeças nada. pudesse eu e faria, de novo, um festim com o teu sangue, dançando em cima do teu corpo ao som de urros bárbaros. 


5.1.18

x entra todos os dias na sala que partilhou durante anos com a amiga cuja doença levou. o nome da amiga de x continua marcado na porta. a mesa está vazia e, supõe x, assim se manterá por bastante tempo. a amiga de x desapareceu. mas os objectos, os papeis marcados com a sua caligrafia, os livros, as fotos... isso tudo, por enquanto, mantém-se neste plano físico em que estamos. a amiga de x desapareceu. para sempre. mas os dias correm iguais. e há uma estranha normalidade no ar. e essa estranha normalidade deixa x profundamente agoniada. 

4.1.18

x não sabe se é só ressaca dos últimos tempos ou se é a crise da meia idade a ficar apurada. mas a verdade é que hoje acordou com a sensação que quase nada faz sentido e com vontade de mandar tudo para o caraças e mudar-se para outras paragens. x tem balançado em demasia entre a sua natureza nómada e a necessidade de paredes. as paredes têm vindo a perder importância, contudo.

3.1.18


Sleeping at last - Saturn

with shortness of breathe, I'll explain the infinite
how rare and beautiful it truly is that we exist