28.8.16




É estranho como um sítio cheio de horrores pode ser, também, um local que irradia paz. Mas x não conseguiu tocar nas paredes que guardam em si a memória de vidas desfeitas em nome de nada. E tremeu quando percebeu que estava a entrar na câmara de gás. É uma sala estranhamente pequena para a dimensão do que nos contam como foi. Ao lado, os fornos crematórios que foram incapazes de apagar todas as provas. Provas em forma de carne humana amontoada com desdém a espera da sua vez. Falharam os fornos. Fizeram as câmaras fotográficas o favor de deixar restos para o futuro do passado que se não quer repetido. Corpos magros, pálidos, explorados e destruídos pela barbarie, pela fome, pela doença e pelas balas de um regime infame. A opressão do arame farpado disfarçado no verde imenso das redondezas. O impensável no meio da pacata cidade de ar inofensivo. "Nunca mais" está escrito algures no campo. Que tenhamos a sensatez de nunca, mas mesmo nunca, esquecer. Dachau, 2016.
X voltou de férias. X está em casa, aninhada, a contemplar a placidez do seu mundo. X correu entre pontos durante estes últimos dias. Lisboa, Munique, Dachau, Lisboa, Braga, Porto, Braga, Lisboa, além Tejo, Lisboa de novo. X está de volta à casa. Cansada, moída, dormente... Mas feliz. Amanhã x conta mais. Hoje vai apenas continuar a beber o copo de vinho branco que tem à frente. E a agradecer aos céus tudo o que lhe tem sido dado. E a fazer planos. Planos diluídos, e algo híbridos, como sempre. Mas planos cheios de futuro. De vontades, e de fé. X percebeu, de novo, o quão certeiro tem sido o seu caminho. X não se arrepende, apesar de guardar algumas mágoas. Mas x não se arrepende. De nada. O seu caminho até aqui foi bonito. X conseguiu tudo o que se propôs. Agora, x quer o resto. O imaterial. As pequenas explosões nas pontas dos dedos. As revoadas. 3, 2, 1... Agora... Vai x!

12.8.16

a ti, que apareces sem te mostrares; que te rendes ao "deixa lá ver o que é que ela anda a fazer agora"; que estás sempre a espreitar às escondidas mas és incapaz de te mostrar presente porque isso faz renascer monstros no armário; a ti, que sabes quem és - vai-te foder. e longe.