22.12.17


Olafur Arnalds - Only the winds

x começou 2017 zangada. cansada. farta. a rebentar de tudo. tudo. quase se despediu. berrou. zangada. muito zangada. depois tirou férias.

passou dias de inverno a olhar o mar. acalmou.

preparou o seu relatório de avaliação e não se coibiu de fazer críticas que poucos ousam fazer. foi ouvida. e acabou por ser "promovida".

foi a maputo participar numa conferência internacional. reencontrou pessoas. redefiniu prioridades.

decidiu não se incomodar em demasia com coisas que não está na sua disponibilidade mudar.

partilhou casa com três pessoas diferentes. 

acolheu uma pessoa nova na sua vida. essa pessoa acabou a fazer a vida de x num pequeno inferno por alguns momentos. descartou essa pessoa sem grande piedade. percebeu que há malta que é mesmo descompensada. e perigosa. pôs uma pedra em cima desse assunto e alertou toda a gente que essa pessoa não batia bem dos cornos. continuou a sua vida.

inscreveu-se na pós-graduação que há muito queria fazer. passou uns meses em corridas entre o escritório e a faculdade. teve muito pouco tempo para estudar. 

perdeu saúde. viu as suas dificuldades respiratórias agravarem-se brutalmente. chegou a um ponto que já não conseguia andar, subir escadas ou mesmo falar sem ficar com falta de ar agonizante. até que um dia disse "chega". e decidiu avançar com a operação que adiava há anos. conseguiu organizar tudo em tempo record e foi operada pouco mais de um mês após ter tomado a decisão. não teve sequer muito tempo para pensar no que podia correr mal. passou uma semana em casa com a cara inchada e os olhos negros. mas recuperou. 

foi indicada para um curso de liderança no magic circle em londres. fez o curso entre os melhores dos melhores do ramo. voltou a correr de londres. trabalhou que nem um burro de carga. 

cumpriu um sonho de há anos e viajou pela islândia. encontrou amigos novos. viu das paisagens mais bonitas do mundo. espantou-se. andou pelas ruas coloridas de reykjavik. andou em cima de glaciares, de montanhas, vulcões, praias de areia preta e ondas revoltas, por baixo de cascatas, dentro de grutas. riu. foi feliz. saiu da islândia com muita vontade de voltar rapidamente. 

voltou a portugal. fez férias nos seus sítios de sempre. apanhou sol. acampou. passou tempo com a família. mimou a sobrinha. mimou muito a sobrinha. 

voltou a maputo. passou duas semanas extenuantes a trabalhar com a equipa local. 

voltou. cheia de planos e com vontade de mudar o mundo. percebeu que o mundo, às vezes, custa a ser mudado. 

ficou com o carro parado na auto-estrada no dia em que o carro não podia ter ficado parado na auto-estrada. passou-se. decidiu comprar um carro novo. teve dúvidas. vacilou entre comprar o carro que queria há muito e comprar uma coisa menos burguesa. 

alguém lhe disse que tinha de pensar mais em si e que estava na hora de se mimar. e que se alguém merecia comprar o carro que queria era x. e x, então, percebeu que sim - nos últimos anos preocupou-se mais em dar aos outros do que realmente tratar de si. decidiu comprar o carro. comprou-o. 

decidiu, também, tratar de si. passou a ser acompanhada por uma equipa médica multidisciplinar para perceber o que se passa com o seu corpo, que às vezes dá sinais estranhos. descobriu que tem a tiróide mais dilatada do que já é e que vai ter de tomar medicação para essa treta. não é grave. mas vai ser resolvido. 

começou a fazer caminhada. e viu aos poucos o corpo a começar a reagir. passou a gostar de andar. e de ver a cidade com os pés.

respondeu a situações de emergência social. e ajudou com o que pode uma mãe e uma criança desamparadas. 

ajudou a construir e concretizar sonhos. falta um - que só está pendente por questões que x não consegue resolver sozinha. 

viu a amiga doente piorar de dia para dia. agonizou com a degradação física e mental que se revelaram irreversíveis. espera, em silêncio, o dia em que receberá a notícia que não quer receber. espera. em silêncio e com uma dor escondida. 

x teve um ano difícil. mas conseguiu concretizar coisas que há muito desejava e que em tempos idos pensava ser impossíveis. 

x concretizou o que estava ao seu alcance concretizar. porque há coisas que não vale a pena adiar. a vida acaba num plim. enquanto cá estamos aproveitemos aquilo que temos. e partilhemos o que seja possível partilhar com os outros. 

e, entre lutas, derrotas e conquistas, chegamos quase ao fim do ano. x está menos zangada do que no início. e menos cansada. e menos desacreditada. e mais apaziguada, talvez. e, sobretudo, com a certeza que a vida corre desaustinada à nossa frente. tenhamos capacidade de a acompanhar. e de aceitar que, às vezes, não nos cabe a nós decidir o caminho. 

boas festas. e sejam felizes.

2 comentários:

Lápis Roído disse...

Coisas boas, coisas más. Não é sempre a ganhar, como também nunca será sempre a perder. No fundo, relevar as coisas boas e relativizar aquelas que foram menos boas ou, num exercício de lucidez, retirar delas o que houver de positivo acaba por ser o truque. Boas festas também para ti ;)

il disse...

parece-me aqui visto ao longe que foi um ano forte em emoções e pleno de aprendizagens. (e isso parece-me marcante)

boas festas x e que venha um 2018 com mais sorrisos e menos amarguras.

(AH! e tenho a dizer que de cada vez que agora vejo uma bisarma parada no semáforo já não olho com aquele meu ar de "preferia mil vezes um defender de bancos corridos", só por saber que poderá lá estar alguém que efectivamente desejou o evoque! huhuhu)
(AH!.2 boa sorte com o evento da empresa!)