30.11.11



intercalados. como convém.
nunca perceberei aqueles se trocam por dentro com a mesma facilidade que se trocam por fora. ser-me-á sempre mais fácil perceber aqueles que o desconseguem. mas, em certa medida, invejo os primeiros.

29.11.11

é irónico. quando um lado se desfaz em justificações desnecessárias (ou até, porque não, dissimuladas) o outro impõe-se com a sua razão ferida dizendo "estás a ver, erraste agora aguenta". por seu turno, quando as justificações desnecessárias (ou até, porque não, dissimuladas) se calam de um lado, o outro que antes se impunha, cai por terra de joelhos e vê que também errou e que tudo o que continua a fazer é aguentar mesmo que com gargalhadas (ainda que quase sempre tristes). o apontar de erros não favorece o equilíbrio promovendo antes uma permanente medição de forças coroada com infindáveis inversões de papéis. e este é sempre um trajecto perdido em circulares sem saída. e o que ontem era confuso hoje é tão claro. enfim.
não depender e não esperar absolutamente nada de ninguém tem péssimas consequências: ao deixarmos de nos pôr nas mãos de outrém deixamos também de ter necessidade de confiar, o que leva a uma desaprendizagem da confiança em si mesma e faz com que, necessariamente, nos transformemos em seres cada vez mais solitários. mas receber algo de alguém quando não se espera absolutamente nada de ninguém estilhaça-nos os pés de barro. é como acordar com uma bofetada.

28.11.11

detesto o trabalho do Dalí - as formas as composições o imaginário, até as cores. e detesto, sobretudo, porque tenho a permanente sensação que tudo o que ele fez tem mais de provocação entre o vaidosa e o arrogante do que de profundidade. embora por razões diferentes, tenho com o Dalí a mesma relação de ódio visceral que tenho com o David Cronenberg. mas devo reconhecer que têm ambos uma qualidade notável - despertam em mim instintos violentíssimos. 
oh esta incrivel tendência de fuga para a frente encobrindo o que foi com mantas escuras como forma de evitar o luto e a ressaca do fim fazendo substituir a falta por risos histéricos sem senso. isso não é crescimento... é parvoíce.
há dias em que o mundo me parece um imenso emaranhado de absurdos. como hoje.
perguntaram-me "qual foi a coisa mais difícil que fizeste até hoje".

respondi "apagar um número de telefone".

25.11.11


Mauvais sang - Leos Carax

revisitei-o. e agora apetecia-me que me apetecesse correr assim. 

22.11.11


Amatorski - Same stars we shared

same stars we shared
all frozen in the sky
while dreaming the same
guilty we are
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Joanna Newson -Baby Birch

...be at peace baby, and be gone.
sonhar, em forma de video-clip, com duas personagens que detesto ao som da angel olsen parece-me, no mínimo, estranho.

20.11.11


Armistice (Couer de Pirate (Béatrice Martin) + Jay Malinowski) - Mission bells

Russian red - perfect time



Julianna Barwick - Sunlight, heaven

19.11.11

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Aesthesys - I'm free, that's why I'm lost

16.11.11

o ritmo que se me impôs é meio alucinado. não tenho tempo, não tenho tempo, não tenho tempo. talvez seja a frase que mais vou dizendo. não tenho tempo. e, quando o tenho, falta-me a vontade de saber como anda do mundo. a crise vai, por enquanto, passando-me de esguelha. sou uma privilegiada, portanto. privilegiada por ter trabalho que só cresce, cresce, cresce e que não me deixa espaço para ter uma vida como a vida das pessoas normais. mas hoje paguei o iva... e quando vi no recibo o montante do "valor a pagar" apeteceu-me dizer "foda-se lá a crise, e o país, e o governo e o raio que os parta a todos!". é o que me acontece aos dias 15 a cada três meses.
isto é tudo muito giro ser independente e tal... mas foda-se que também cansa fazer tudo sozinha!

15.11.11


Badlands - Terrence Malick (1978)

pouco mais de 20 segundos onde cabe tudo.

14.11.11

eu sei que isto até pode chocar meio mundo,
mas ele há dias que os radiohead me aborrecem como o raio que os parta.
eu devia estar de férias. pois devia. mas não estou.

8.11.11

aborrecem-me meias-palavras, meios-sentidos, meias-verdades, meios-sins, meios-nãos, meias-vontades, meios-caminhos, meias-pessoas... aborrecem-me as coisas a meio. e aborrece-me, sobretudo, que se viva em metades. ou então pela metade.

7.11.11

o absurdo revela-se. e o que antes era náusea, hoje é vazio. curiosas estas mudanças. pedem-se tanto e, quando chegam, estranham-se. tenho a cabeça cheia de nada. não sei o que prefiro: se a avalanche anterior se este vazio desconcertante.

4.11.11

deve ser do fim do verão. não gosto do outono. é triste. mas gosto do inverno. e do frio e de mantas e cobertores e chá quente e de bolo de chocolate e do natal e de cachecóis. mas do outono não gosto. é estação de morte. de fim. mas dizia eu que deve ser do fim do verão - o andar meio angustiada. mas também é cíclico. embora agora vá passando mais depressa também. a idade vai-nos ensinando a recuperar o fôlego com menores danos. de qualquer forma uma coisa é certa - estou cada vez mais intolerante a alguns alguéns. também deve ser da idade. a verdade é que detesto gente má. e vampiresca. é, portanto, natural que a distância entre mim e o mundo de terra se vá alargando. mas eu nunca disse que isso é bom. não é. eu às vezes gostava de ser cínica.  ou maldizente. teria, com certeza, muito mais amigos. 

2.11.11

"you do know for yourself. and what you know is valid."



gosto do david lynch. mais do que dos filmes do david lynch. mas também gosto dos filmes do david lynch. (mesmo quando não gosto assim tanto.) david lynch tem este dom - fazer-me gostar de algo que normalmente odiaria, sem que isso me pareça demasiado estranho. david lynch dá-me liberdade de ver o que eu quiser ver nos filmes dele. sem dizer "estás errada, estás errada". e isso já é meio caminho para eu gostar dele. e dos filmes dele. (mesmo quando não gosto assim tanto.) e david lynch não me faz bocejar. e isso é raro. e deve ser sobretudo por isso que gosto dos filmes de david lynch. (mesmo quando não gosto assim tanto.) e isto ocorreu-me porque revi o eraserhead - que continua a incomodar-me como da primeira vez. vejo naquele ser de cabelos em pé a personificação de todas as frustações terrenas, vivendo algures entre o céu e o inferno. quase sempre no inferno, contudo. ou na apatia, o que talvez seja pior. assim sendo, o mundo que david lynch transpõe para a tela é bem menos abstracto do que à primeira vista parece. talvez seja exactamente isso que gosto no david lynch - a omnipresente capacidade de abstractizar o concreto. e talvez seja também exactamente isso que não gosto no david lynch - a omnipresente tendência de abstractizar o concreto. também gosto que haja uma moral sempre presente. mesmo quando tudo parece imoral ou amoral. gosto destas aparentes contradições. afinal de contas, nós somos mesmo assim - multipolares. quem não assume essa multipolaridade tem certamente uma vida mais simples. contudo, sem dúvida nenhuma, mais pobre. não, isto não é um post sobre cinema. é sobre a natureza humana.

1.11.11


Miranda Sex Garden - Play

o lugar é mais ou menos assim. e volto tantas vezes.
por muito que tentemos desconstruir, o que foi e o que é terão sempre de ficar arrumados em cantos opostos de nós. e momentos haverá em que apetece atirar ambos fora. e este é o dilema de quem vive distraído com o que pode vir a ser. o mundo do possível engole-nos.