29.10.12

há muito tempo que não compro livros. jurei a mim mesma que antes ia ocupar-me de alguns dos imensos que tenho espalhados por casa. tenho vindo a confirmar que não consigo ler romances. divido-me entre a poesia, história e filosofia. quando o tempo me deixa, pelo menos. hoje peguei na "Breve História do Progresso" de Ronald Wright. 
começo o dia às 8.45. banho. cabelo. roupa. café. ligam-me às 9.45. ai e tal que já me tinham ligado duas vezes de paris por causa da conferência e coiso. era só às minhas 10.30, sabia lá eu que ia mudar a hora. aguentem-se e liguem mais tarde. despachar. carro. trânsito. garagem. elevador. 10.10, estou no escritório, organizo emails e preparo a conferência. 10.30, o telefone toca. cerca de meia hora de blablabla para aqui e blablabla para acolá. fim. confirmo outra conferência para as 11.30... ufa afinal nesta não é preciso eu estar presente. respiro, penso em beber outro café, desta vez descansada. o telefone toca novamente. atendo. saio disparada para apanhar alguém algures na cidade e levar de urgência para o hospital. são 13.30, estou cansada.

28.10.12

e bon iver foi assim-assim, por isso não vai deixar memória.

22.10.12


Blueneck - Lilitu


once again we lost
all control to lust
once again we loved
and never got to end



não tenho tido espaço. e blueneck precisa de espaço para ser ouvido.
mas sinto falta. de blueneck. e de espaço.

20.10.12


Ólafur Arnalds & Nils Frahm

não sei do que gosto mais no ólafur arnalds: se do ar alienado, se da voz nervosa, se da aparente simplicidade, se do sorriso envergonhado, se da jovialidade crescida. mas gosto, definitivamente, do génio. e do nevoeiro que cria com o som.

18.10.12

segunda-feira levantei-me às 7h e estive a trabalhar até às 22.30h, sem parar. terça-feira levantei-me às 8h e estive a trabalhar até à meia noite, sem parar. ontem acordei às 8.15h e estive a trabalhar até às 2h da manhã, sem parar. hoje acordei às 8.15h e não sei até que horas vou estar a trabalhar, sem parar, mas há-de ser até amanhã. não se trata de nenhum pico de trabalho em especial. é o meu dia-a-dia desde há muito tempo. por isso irrita-me bastante quando oiço alguém que trabalha das 9h às 17h (ou, em certos casos, menos) dizer que  está muito cansado e tal porque trabalha muito e tal e não têm tempo para estar com os filhos e tal, nem para ter vida como ir ao cinema, ou jantar, ou fazer desporto, ou outras coisas do género e tal. é que eu não tenho sequer tempo para pensar nisso. nem para estar cansada. por isso, evitem ter esse discurso ao pé de mim sob pena de me dar as iras e mandar alguém para o caralho. dito.
 
 

15.10.12

há pouco mais de cinco anos, escrevia sobre Bamako,filme de Adderrahmane Sissako que acabara de ver no Dockanema em Maputo. escrevia com raiva. ainda que temperada pela inocência própria de quem se espanta quando percebe a omnipresença do mal no mundo. foi em "Bamako" que, pela primeira vez, vi tão bem retratado o papel de organizações que parecem insuspeitas aos nossos olhos ocidentais. à minha raiva acrescia o profundo desalento que foi conhecer de perto o trabalho de algumas agências humanitárias , ou de cooperação, ou de ajuda internacional - ou o raio que os parta a quase todas -, que as mais das vezes não são mais do que grandes negócios. muitas vezes com propósitos deliberadamente desestabilizadores, manipuladores e perpetuadores da miséria. foi mais ou menos nessa altura que deixei de ter vontade de trabalhar para as nações unidas ou qualquer outra organização internacional do género. salvo raríssimas excepções, a política e os pequenos interesses de uma imensa minoria sobrepõem-se, quase sempre, à vida de quem não é mais que um número, uma estatística representada em dólares que, amealhados em banquetes de ricos, vão quase todos parar directamente ao bolso de outros igualmente ricos. tudo em nome dos pobres. a suprema barbárie, portanto. "Bamako" fala em primeiras vozes do sofrimento atroz, da manipulação pura, da descaracterização cultural e da aniquilação da identidade causadas pelas políticas imorais, torpes e gananciosas do alimentadores do banco mundial e do fmi. mas jamais imaginaria que viria a ver a europa sofrer com os efeitos do veneno que ajudou a criar. o texto termina assim; "No fim, e apesar de tudo, o filme acaba com uma certa esperança na mudança das coisas. Esperança que vem de pessoas que não têm razão nenhuma para esperar o que quer que seja. Uma esperança que, apesar de tudo, quase não existe no ocidente. A esperança de quem não tem nada a perder." na europa passa-se hoje o mesmo. propaga-se o sofrimento atroz, a manipulação pura, a descaracterização cultural e a aniquilação de identidades, destruídas às mãos das políticas imorais, torpes e gananciosas do banco mundial e do fmi. e, já agora, da bruxelas de hoje, e de todos os lobos financeiros que alimentam esses monstros insaciáveis. mas aqui, hoje, a esperança esvai-se e muita gente já não tem nada a perder. e é em momentos destes que o caos se sobrepõe à lucidez. é em momentos destes que a insanidade impera. resumindo,todo o sistema está alavancado num enorme embuste. e hoje, pela primeira vez, temo pelo futuro próximo da europa.

9.10.12


Oláfur Arnalds feat. Haukur Heidar Haukson - A hundred reasons

8.10.12

em 2008, em pleno processo desassossegado de ruptura com quase tudo, passei mais de duas horas com as lágrimas a cair pela cara abaixo. não era de tristeza. nem de infelicidade. era antes de reconhecimento. de  pertença. de regresso a casa. foi arrebatador. e deixou-me sem palavras. só com estrelas. tive vontade de ficar ali. para sempre. ali. assim. o tudo e o todo concentrado num momento. eterno. enorme.
 
em 2013, o dia 14 de fevereiro vai ser perfeito. mesmo que meta as mesmas lágrimas incontroláveis.
 
SIGUR RÓS. CAMPO PEQUENO.

(BILHETES COMPRADOS E RELIGIOSAMENTE GUARDADOS)

5.10.12

sonhei com o passado, algures no presente, segurando mais um pequeno futuro. no meio, uma parede de vidro como se houvesse passado, presente e futuro paralelos; ainda que sempre à distância de um breve esgar de olhos. olhos tristes, de um lado e do outro.