22.12.13

2013
 
- nasceu a beatriz;
- fui à mongólia e atravessei o deserto de gobi;
- adiei cinco vezes idas a moçambique;
- transformei a minha casa numa fábrica de compotas. vendemos quase 2000!
- geri uma página do facebook com mais de 1200 subscritores;
- não fui uma única vez à praia;
- passei uma semana em braga para fazer a mudança de casa dos meus pais;
- perdi a minha avó;
- fechei um negócio depois de quase dois anos de trabalho;
- fui a paris como uma espécie de teste e correu lindamente;
- o meu irmão mais novo mudou-se para braunschweig;
- acabei de mobilar a minha sala;
- reuni amigos de sempre;
- acabei com uma ligação doente;
- envelheci;
- recebi uma oferta de trabalho milionária que recusei;
- deixei os chefes boquiabertos;
- recebi várias mensagens de clientes a falar bem do trabalho da minha equipa;
- trabalhei mais do que nunca;
- decidi adoptar;
- fiz amigos novos;
- vi sigur rós e mono;
- fui nomeada para um prémio de qualidade;
- vi os meus pais extraordinariamente felizes.
 
resumindo, nasceu a beatriz!

20.12.13

em paris deparei-me com uma mesa com 15 pessoas da indústria petrolífera internacional prontas para me albarroar com perguntas. como em tudo o que faço na vida, respirei fundo e pensei "x, ninguém aqui sabe mais disto em concreto do que tu, mesmo que tu não saibas assim tanto, a modos que orienta-te". correu tudo bem, correu tudo muito bem. no fim, vieram agradecer-me as respostas, desejar boas festas e pedir mais trabalho. de paris vi os champs élyseés de fugida, a cama do hotel, o interior de dois taxis e uma sala reuniões. dois dos meus interlocutores holandeses eram giros mesmo giros. toda a gente foi extraordinariamente simpática, acessível, prática, objectiva e sem merdas. voltei passadas vinte e quatro horas. o chefe perguntou "então, não te tremeram os joelhos?". não, não tremeram os joelhos nem nenhum outra parte do corpo. e é tudo.

16.12.13

gerir uma página de facebook com 1200 subscritores, anotar encomendas, preparar encomendas, entregar encomendas, enviar encomendas pelo correio... enquanto isso, trabalhar 10 a 12 horas por dia incluindo fins de semana, organizar um jantar para vinte pessoas, fechar uma operação, preparar uma viagem de trabalho, preparar uma reunião de trabalho onde vou ser cilindrada com perguntas e dúvidas e pedidos de esclarecimento e sei lá mais o quê, aturar os estagiários, substituir o chefe na ausência, e voltar a gerir uma página de facebook com 1200 subscritores, anotar encomendas, preparar encomendas, entregar encomendas, enviar encomendas pelo correio... quando estas duas semanas acabarem vou-me sentir feliz! nem que seja por ter quatro dias de férias!

10.12.13

este ano, a festa de natal com os amigos de sempre - agora também com terceiros e crianças - vai ser na casa de x. ao fim de quase 20 anos, ainda há pessoas que vão ficando. e isso é giro.
há quase seis anos que x trabalha no mesmo sítio. esta é a relação mais longa, estável e fiel que x teve até hoje. quem diria...


Tom Waits - I hope I never fall in love with you

ao princípio, não o suportava. depois aprendi a gostar dele. hoje está-me colado à pele. os grandes amores são assim.

8.12.13


Sigur Rós - Glósóli

um dia o futuro chama-te. tu respiras fundo, engoles medos, e vais.










casa, é onde somos inteiros.

6.12.13



é impossível explicar áfrica a quem nunca esteve em áfrica. é impossível explicar a saudade de áfrica a quem nunca viveu em áfrica. é impossível explicar como a terra se mistura com o sangue, como os risos de destacam das dificuldades, como o nada tem tanto dentro. é impossível não sentirmos vergonha. pela exploração. e pela imposição de barreiras justificada por cores de pele. mas é, sobretudo, impossível explicar a esperança, a força, a fé de quem quase nada tem. é impossível explicar o que este nkosi sikelel' iáfrika representa a alma de um continente a quem nunca o ouviu sair da voz de quem o canta com as lágrimas nos olhos. tenho o coração dividido a meio. e hoje também eu me sinto orfã.

18.11.13


Ben Howard - Oats in the water

13.11.13



Julianna Barwick - The Harbinger
 
a música funciona-me como refúgio. e como espelho. hoje sinto-me assim, algures perdida entre o princípio e o fim.

12.11.13

devo estar numa fase particularmente confusa da vida. estou cansada de tudo, descrente em tudo, farta de tudo, aborrecida com tudo. questiono os caminhos, as escolhas, o destino, o futuro. não acho que tenha errado em tudo, mas hoje convenço-me que acertei em pouca coisa. talvez esteja a ser algo injusta comigo própria mas a pouca coisa em que acertei começa a parecer-me cada vez mais pequena em relação ao nosso lugar no mundo. sim, devo estar numa fase particularmente confusa da vida...

7.11.13


Wim Mertens - Struggle for pleasure

hoje, alguém que partilha a mesma dependência da música que eu, enviou-me logo pela manhã uma mensagem acompanhada de wim mertens. wim mertens esteve presente na minha vida durante muito tempo. a sua música teve um papel importante no meu crescimento como pessoa. já não lhe voltava há muito tempo. há demasiado tempo. mas hoje, alguém que partilha a mesma dependência da música que eu, devolveu-me ao génio. e a um concerto no S Luiz. e a um dos momentos que ficou cristalizado no tempo como um dos mais importantes da minha vida.

29.10.13

e ao terceiro dia de controle da desordem nos sonos e na alimentação dos últimos (muitos) meses, o organismo de x começa a querer reagir.

28.10.13

coisas que x detesta: dióspiros, x detesta dióspiros. e as andorinhas do bordalo pinheiro, x detesta com as ganas todas as andorinhas do bordalo pinheiro.
e o chefe entra na sala de x. x está com os fones ligados no máximo. x reduz o volume. x diz bom dia e sorri. o chefe de x exclama a rir:
 
"eia!! o fim de semana deve ter sido mesmo bom! que ar luminoso é esse?"


New Order - Temptation

acordei às oito e meia. bebi um chá de limão. tomei banho. bebi café e comi pão de cereais com queijo fresco. sequei e penteei o cabelo. vesti-me. calcei-me. preparei o saco do almoço e do lanche. fumei um cigarro. sai de casa. sentei-me na minha secretária. estou a ouvir isto. hoje começa um novo ciclo. adeus ontem.
objectivos a curto prazo:

- dormir pelo menos sete horas por dia;
- alimentar-me a horas decentes e em condições;
- trocar de óculos e trabalhar sempre, mas mesmo sempre, com eles postos;
- repitar em forma de mantra "já não tens vinte anos x, já não tens vinte anos x, já não tens vinte anos x".

24.10.13

esta foi a primeira noite de sono tranquila que tive em muitos meses. logo pela manhã chorar a rir com a descrição de uma tentativa de assalto na casa de um colega durante a madrugada e de seguida receber duas excelentes notícias parecem-me muito bons sinais de que a calma está a voltar. e isso é bom!

Julianna Barwick - One half

foram cerca de setenta minutos em que senti como se me estivesse a ver em sons.

23.10.13


Marie Fisker - Ghost of love

chama-se Marie Fisker e é a voz que me tem acompanhado nos últimos dias.
a minha equipa de trabalho nomeou-me para dois prémios internos, nas categorias de qualidade e integridade. posso até nem ganhar, mas esta nomeação já é prémio suficiente.

22.10.13


Sarah Jaffe - Swelling
há anos que digo que novembro me muda a vida.
ainda não chegamos lá e já está tudo de pantanas.

21.10.13

as  últimas notícias do meu país de alma deixam-me de coração um bocadinho apertado.
nos últimos anos mudei muito. por dentro e por fora. mas talvez a mudança mais radical tenha sido perder a fé na bondade da generalidade das pessoas e a ideia de que a amizade é imortal. não é.

20.10.13

a minha casa também tem estações do ano. estamos em mudança radical para nos prepararmos para o inverno. vai saber bem estar na nova sala a fazer festas às gatas enquanto se bebe chá e come bolo acabado de fazer. vai ficar tão bonita!

19.10.13

tive uma semana terrível, mas confirmei que o meu trabalho me dá um gozo do caraças. há uns anos no passado, jamais me imaginaria a dizer uma coisa destas. a vida é curiosa. e leva-nos pelo caminho que é nosso, mesmo quando nada o faz crer.

16.10.13

há uns dois meses, roubaram-me a carteira na mercearia do bairro. fiquei sem cartão do cidadão, carta de condução, cartão do seguro de saúde, cartão ikea family e outros que nem sem bem quais. há cerca de quinze dias, perdi a nova carteira num bar do bairro. fiquei sem os cartões bancários. há uns dias assaltaram-me o carro. o ritmo alucinado no trabalho voltou e ando a chegar a casa de madrugada. entre trabalho, compotas, entregas, preparação de encomendas postais, organização logística dos packs de Natal, muito cansaço e péssima alimentação, hoje ia desmaiando de manhã. esta é a real vida de x - o caos!

14.10.13

pela enésima vez, assaltaram-me o carro. levaram quatro isqueiros bic mas deixaram o maço de tabaco. vá-se lá perceber...
"...and we are in bed
together
laughing
and we don't care
about anything..."

Charles Bukowski
 
quando dia e noite não têm horas. e o mundo inteiro somos só nós.

12.10.13



Woodkid - Run boy run

Mexefest, Lisboa.

eu vou!


Daughter - Still

Mexefest, Lisboa.

Eu vou!

8.10.13

este ano está a ser cheio de movimento e mudança. ganhei uma sobrinha. perdi a minha avó. os meus pais mudaram de casa e de vida. o meu irmão mais novo parte amanhã para a alemanha. e aproxima-se novembro, esse mês que tende a revolver-me a vida. ainda nao estou segura do que por aí vem, mas vem alguma coisa gigante. e este ano já está a ser cheio de movimento e mudança.

7.10.13


 
Chrysta Bell / David Lynch - Angel Star


3.10.13

tentei começar este texto de várias formas diferentes mas desisti. faz três dias que perdi a minha avó. tinha 85 anos cheios e vazios de tanto. mas guardava o sorriso de sempre. e a tolerância, a compreensão, o carinho e a fé no próximo. morreu tranquila. e com a sensação de dever cumprido. aceitei a sua morte com a mesma tranquilidade. e com a mesma paz. não me permiti sentir dor, para poder atenuar a dor da minha mãe. mas não consegui olhar para ela dentro daquela caixa. não consegui estar ao pé das flores. não consegui entrar na igreja. não consegui ir ao cemitério. não consegui chorar. até agora, em casa, sozinha e em silêncio. 

24.9.13



M83 - Wait


Ólafur Arnalds (feat. Arnór Dan)- For now I am winter

invejo-lhe o génio. admiro-lhe a humildade. arrepio-me com a música.

Mumford and Sons - Awake my soul

é isto que o mundo me grita ao ouvido - acorda x, está na hora!

23.9.13

ouvir da boca de alguém que tem vidas que nós achamos bonitas e cheias de tudo - incluindo filhos, família, estabilidade, segurança e sei lá que mais -, dizer a nós (que conhecemos a nossa vida demasiado bem e assumimos que é vazia de tanta coisa - incluindo filhos, família, estabilidade, segurança e sei lá que mais -) coisas como "às vezes invejo-te tanto!" é muito estranho.
 
 

Julianna Barwick - Dancing with friends

23 de outubro. Teatro Maria Matos, Lisboa.

eu vou!

19.9.13

embarquei no dia 21 de agosto com destino a Frankfurt. de lá, parti para Pequim. quando me sentei no avião da Air China, senti que estava, finalmente, a caminho das férias. partia em direcção o oriente. jantei, espreitei os filmes e, quando me começava a chegar o sono, reparei na luz imensa que vinha da minúscula frincha da janela. para mim, eram duas da manhã e a luz áquela hora absurda foi o meu primeiro choque. passei as horas seguintes numa espécie de vigília dormente. passadas umas horas, estava perdida no tempo mas ofereciam-me o pequeno almoço. não faço ideia que horas eram, mas o meu corpo dizia-me que fazia pouco sentido estar com uma omelete à frente naquele momento. abri a janela. lá em baixo estava a paisagem mais extraordinária que jamais vi do alto de um avião - a estepe mongol. atravessei grande parte da Mongólia pelo ar, antes de lhe por os pés no chão. entramos na China, sobrevoamos as montanhas gigantes e quase assustadoras, vimos a grande muralha - que afinal não é só grande, é inacreditável. aterramos. ainda pasmada, esperei pacientemente pelo próximo voo para Ulaanbatar. cheguei ao destino por volta das seis da tarde locais do dia 22 de agosto. estava sete horas no futuro relativamente à minha hora orgânica. não tive jetlag. quando cheguei ao hotel, verifiquei que ficava mesmo ao lado da meta do mongol rally. ri. como eu gostaria de chegar ali um dia montada num carro impossível depois de atravessar meio mundo! aumentou-se-me a vontade de o fazer, confesso. os primeiros dias foram de descoberta do grupo, da consciencialização da distância e do confronto com a dureza da viagem. a primeira surpresa foi descobrir que a nossa porta de entrada no Gobi tinha um imenso aroma a cebolinho. eram quilómetros infindáveis de terra coberta por flores de em tom lilás à entrada de um dos sítios que mais vontade tinha de conhecer no mundo. foram dois dias iniciais cheios de surpresas e imprevistos. e gargalhadas, muitas gargalhadas. já não me ria assim - a acabar em lágrimas - há meses. demasiados meses! vi a luz mais bonita da viagem em Baga Gazrim Chuluu, fui engolida por uma nuvem de areia em Tsagaan Suvarga, lavei-me em casas de banho públicas em Dalanzadgad e, ao quarto dia, chegamos a Bain-Dzak. sentei-me sozinha em frente ao colosso que são as Flaming Cliffs. quase chorei perante a obra de deus, ou do universo, ou sei lá de quem. contive-me. apreciei o silêncio. afoguei-me nele. fiquei ali. absorta. comovida. aquele momento seria eternamente só meu. a custo, levantei-me. e voltei à vida. caminhamos por entre a terra vermelha e reencontramos o caminho da viagem mais à frente. chegamos ao acampamento.  tomei banho num chuveiro improvisado, no meio do nada, enquanto um vento forte e quente tomava conta de tudo. os minutos que estive debaixo de água foram de uma paz imensa. assisti, de fora, a um ritual Xamã e fui invadida por um cansaço incontrolável que me fez quase perder os sentidos antes de chegar à pequena cama que me estava destinada. acordei por volta das cinco da manhã para as trinta horas mais mais extraordinárias de toda a viagem. depois do pequeno almoço, rumamos a Konghoryn Els, as dunas de areia que cantam. a viagem é belíssima, o Gobi é inexplicável, as palavras não chegam. chegamos ao nosso acampamento ao início do final da tarde. em frente ao nosso ger levantavam-se as enormes dunas de areia. o cenário era indescritível. andei em cima de um camelo durante quase três horas. o silêncio era só interropido por pequenas risadas aqui e ali. a paz era gigante. à chegada, sentei-me num pequeno tronco perdido a ver o sol cair. as cores no céu eram intraduzíveis. mais silêncio. (os sons interrompem-nos tanto, quase sempre!) o céu era omnipresente - aquele céu que parece tocar nas nossas cabeças, fazendo-nos insignificantes no meio do todo. no fim de jantar, a escuridão era apenas disfarçada pela luz ténue das lanternas. juntou-se-nos o chefe da família que nos acolheu e ouvimos a sua voz cantar histórias do deserto. quase chorei na penumbra enquanto bebíamos pequenos shots de vodka pura. adormeci embalada por uma enorme paz para acordar às quatro da manhã. estava frio mas tinhamos poucas horas até ao pôr do sol que queríamos ver lá em cima, sentados na crista da duna. fizemo-nos ao caminho quase perdidos por entre pequenos braços de rio intercalados por  zonas de lama e arbustos secos. por fim, chegamos à zona de areia. depois subimos, e subimos, e subimos. todos pensamos desistir a meio. mas todos chegamos ao fim. lá em cima, com as pernas doridas e os pulmões a gritar, sentamo-nos no topo do mundo com o sol a acordar à nossa frente. eram cerca de seis da manhã do dia 27 de agosto e estava a viver um dos momentos mais simples e bonitos da minha vida - o  sol tomava conta do manto imenso de dunas de areia do Deserto de Gobi. depois de quase uma hora imóvel de pasmo, desci-as. estava feliz!


o Deserto de Gobi é avassalador. a enormidade da paisagem inóspita - apesar de profundamente diversa - tira-nos a respiração. o silêncio é dono de quase tudo e só é incomodado pela ocasional passagem de um carro, uma moto, um rebanho... ou pelo vento. mas quando chegamos aqui, às Flamming Cliffs, ou Bain-Dzak, o vento calou-se. e o silêncio apoderou-se de tudo por alguns minutos. eu estava ali, sentada, sozinha e arrebatada por tudo o que se mostrava em meu redor. ao fim de uns segundos,  minha cabeça explodia de nada por dentro. o silêncio absoluto é estonteante.

17.9.13

ouvir ou ler frases como "numa relação com..." é coisa para me pôr os pêlos em pé. foda-se, a palavra "relação" é tão incrivelmente fria que não percebo como é que alguém a usa para expressar a  felicidade meio parva de estar com alguém que por alguma razão parece em determinado momento ser o centro do universo!

16.9.13


Portishead - Roads

já não os ouvia há tanto, mas tanto, tempo. mas cruzei-me com eles hoje. por acaso. ou talvez não. talvez não porque é exactamente esta pergunta que se me põe hoje how can it feel this wrong (?)

13.9.13

em tempos, este blog tenha uma espécie de efeito mágico. era algo estranho, mas tudo o que aqui expressava como vontade acabava por acontecer. obviamente, parte da magia dependia da minha enorme vontade que a coisa em concreto acontecesse de facto. depois a vida mudou, eu tornei-me mais ocupada, mais tranquila em vontades e, também, mais acomodada se calhar. consequentemente, esqueci-me do efeito mágico deste blog e de outras coisas também. mas agora estou disposta a recorrer a tudo para desencalhar um pingarelho que me atormenta há meses - vendam-me a puta da casa caraças! sim, ouviste deus dos blogs e arredores, quero comprar uma casa para os meus pais e preciso que as coisas desencalhem em três dias.

10.9.13

por opção, desta vez viajei sozinha. ou melhor, encontrei-me em ulaanbaatar com um pequeno grupo de pessoas que, pelas mais variadas razões, viajavam, também, sozinhas. cada vez me convenço mais que não sou por natureza um ser social. ou, pelo menos, ou sou-o cada vez menos na acepção comum da palavra. e, no entanto, consigo facilmente misturar-me nos outros, ainda que reserve sempre o meu espaço de quietude solitária com reverência. mas estou, ainda que pareça não estar. foi assim que um dos meus companheiros de viagem me definiu ao fim de uns dias de viagem: x, aquela que parece que não está, mas está! e constato demasiadas vezes que quase sempre estou mais presente em silêncio do que aqueles que mostram estar com ruído. mas o que eu queria mesmo dizer é que é curioso como as pessoas fora do seu palco e longe do conforto do conhecido conseguem facilmente resumir-se ao essencial e encontrar harmonia na diferença em virtude da sobrevivência ao inóspito. despidos de coisas, somos todos iguais. é o aparato material que nos afasta da origem das coisas. é isso é uma pena.
tenho testemunhado várias relações perfeitas, recheadas de declarações de amor constantes e de insistência na revelação pública do amor eterno que está na sua base, a cair de quatro de um dia para o outro. é o mundo que está louco ou são as pessoas que se iludem por quase nada vivendo mentiras numa base diária?
grande parte dos blogs que leio com alguma regularidade estão grávidos ou foram pais há pouco tempo. grande parte das pessoas com quem me cruzo diariamente estão grávidas ou forma pais/mães há pouco tempo. dá-me ideia que o mundo inteiro cresceu menos eu.
pode ser o vício da partida. pode ser a vontade de ser mais ar do que terra. pode ser a angústia da rotina. pode ser só a vontade omnipresente da fuga. ou pode ser só porque sim. a verdade é que ainda não desfiz a mala. não gosto de desfazer malas. entristece-me o regresso. e o fim do que quer que seja. talvez por isso me sinta impelida a pensar no próximo destino, até porque a vida de x é uma espécie de viagem permanente. irão, birmânia, kazaquistão e tajikistão são as vontades do momento.

9.9.13


 
The end of the ocean - On the long road home

poucos dias antes de partir, dizia a alguém preciso de horizonte, de calma, de deus... preciso com urgência de voltar a casa. mais uma vez a música é das poucas coisas que consegue sempre transmitir o meu estado de espírito, mesmo quando tudo o resto falha, ou é impotente para abarcar todos os sentidos. foi assim, como estes dez minutos de violência subtil de sons, que vivi estas três imensas, longas, extenuantes e extraordinariamente vivas semanas - num permanente caminhar pela vastidão do mundo exterior e interior. parti violentamente cansada de quase tudo e sem força para quase nada. voltei com o corpo dorido da dureza da viagem mas com a mente quase limpa e cheia de vontade de me lançar de novo ao mundo. encontrei o horizonte e a calma que precisava. e talvez tenha dado mais um passo para me reencontrar com deus e voltar a casa.

8.9.13


Bastille - Pompei

foi giro entrar num restaurante em Ulaanbaatar e ouvir isto. por momentos, fechei os olhos e no meio do enorme cansaço cantei em silêncio but if you close your eyes, does it almost feel like nothing changed at all? and if you close your eyes, does it almost feel like you've been here before?


















andamos cerca de 2000 km em estradas de terra, ou leitos de rios, ou apenas sobre a erva da estepe; subimos montanhas de pedra; atravessamos rios; passamos por zonas pantanosas debaixo de uma chuva de granizo, raios e trovões; vimos neve nos cumes das montanhas; dormimos em gers no deserto, em cidades, na estepe, nas margens de lagos; vimos iaques, e camelos, e cavalos, e ovelhas, e cabras, e vacas, e abutres, e milhafres, e águias, e roedores de todas as espécies; fizemos caminhadas diárias que duravam horas; vimos chaminés de fada e um mar gigante de areia vermelha; subimos dunas no deserto e vimos o nascer do sol lá em cima; depois, ouvimo-las cantar; tomamos banho em chuveiros improvisados no meio do Gobi, em banhos públicos e em rios; comemos massa com borrego, e mais massa com borrego, e mais massa com borrego, e mais massa com borrego...; bebemos cerveja e vodka mongol; andamos a cavalo; subimos a um vulcão; vimos o céu estrelado em noites frias; dormimos numa planície minada de ratos da estepe; visitamos templos; acordamos com um mongol bêbado no nosso quarto num hotel qualquer numa cidade cujo nome não me recordo; jantamos em sítios onde as ementas eram em mongol e os empregados não falavam uma palavra de inglês; fugimos de um ger cheio de insectos preto depois de quase intoxicarmos com insecticida; rimos; rimos muito; ficamos exaustos; e no dia seguinte ficávamos mais exaustos e rimos ainda mais; fizemos piqueniques no meio da vastidão da paisagem; desempanamos a equipa australiana do charity rally london-mongolia; fomos convidados para ir até à Tasmania; jogamos às cartas para passar o tempo da noite; dormimos com a lareira a arder para esconder o frio lá de fora; bebemos chá de leite e provamos queijos que cheiram e sabem mal como o raio; improvisamos casas de banho e, quando não dava para improvisar, usávamos as latrinas existentes; não vimos um duche durante dias a fio; ficamos descabelados, sujos, transpirados, encardidos, cansados, doridos, e fartos de massa com borrego; não consegui comer uma sopa cheia de pedaços de gordura a boiar sob pena de me vomitar toda logo após a primeira colherada; comemos muitas maçãs por ser a única fruta disponível nos mercados; e frutos secos a acompanhar a cerveja ao final de tarde; cruzamo-nos com poucos turistas e com poucos mongóis; andamos incontactáveis durante dias e dias e dias; ficamos com a cabeça a rebentar de silêncio e vazia de tudo o resto. por isso tudo e por tantas outras coisas que só se sentem, por não caberem em formas ou conceitos, foram dezassete dias do caraças.



voltei. de cabeça vazia e olhos cheios.

20.8.13


 
Sigur Rós - Daudalogn

é com este som e com este querer estar e ser que me preparo para atravessar a mongólia; é com esta espécie de oração na boca como quem pede para lhe devolverem a fé; é com esta esperança de que o silêncio, a distância e o confronto da minha pequenez com a enormidade do planeta me faça voltar a estar agradecida por fazer parte do plano esquizofrénico da criação. volto já!

16.8.13

foi em agosto de 2006, mais ou menos por estes dias, que senti a anunciação da mudança. ela vinha a caminho e eu nada podia fazer contra isso. em sete anos aconteceu um pouco de tudo. mudei de casa, de país, de pessoas, de hábitos, de rotinas, de ideias e de gostos. viajei por sítios que nunca pensei poder um dia ir. descobri que gosto do que a escola me preparou para fazer e que, afinal, a vida às vezes não se engana mesmo que nos leve por caminhos que na altura nos façam pouco sentido. descobri muitas coisas acerca de mim. e dos outros. esvaziei-me de quase tudo. encontrei algo a quem alguns chamam deus e ao que eu chamo casa. mas logo de seguida perdi-o(a), ou fugi dele(a), não sei. mas sei que optei pela fuga ao invés de ficar no vazio de um lugar incompleto. voltarei um dia a fazer as pazes com o universo, suponho. foram sete anos em que aconteceu tanta coisa. boa e má. foram sete anos aos quais me preparo para dizer adeus pois outra mudança se anuncia. como da primeira vez, não sei onde esta me levará. mas vai-me levar a sítios onde nunca fui. disso tenho certeza.

14.8.13

Mongólia, faltam 7 dias!

...e uma mochila pequena, e calças confortáveis, e um casaco quente e leve, e um saco cama, e loiça e talheres de campismo, e uma lanterna, e um impermeável, e uma objectiva nova para a máquina fotográfica, e um cartão de memória, e uma toalha que seque com facilidade, e fitas para prender o cabelo, e um chapéu, e umas havaianas...
coisas que x odeia: sabrinas. x odeia sabrinas.

12.8.13


Sharon Van Etten - Love more
 
resumindo, foi assim.

7.8.13

não bastava estar com um volume de trabalho desumano, gerir diariamente a missão das compotas,  tratar de um crédito bancário e tentar agendar uma escritura em tempo record, pedir um passaporte novo, organizar as coisas para a viagem à mongólia incluindo tratar do pedido de visto, não me bastava não... tinha mesmo de deixar que me gamassem a carteira com os documentos todos, tratar da emissão de novos à velocidade da luz e, quando tudo parecia estar a querer acalmar, o carro vai de pifar mesmo no meio da auto-estrada e o meu seguro - que dizem ser contra todos os riscos - não inclui carro de sustituição! deve ser por isso que ando com episódios quase taquicárdicos.

5.8.13



M83 - Outro

i'm the king of my own land
facing tempests of dust, i'll fight until the end
creature of my dreams raise up and dance with me!
now and forever, i'm your king!


M83 - Midnight city

a ouvir. aos berros.
Mongólia, faltam 15 dias.

30.7.13

12 horas de trabalho diário mais 5 ou 6 de voltas de compotas. x é doida, completamente doida!

29.7.13

x voltou. em branco. foram seis anos. apagados. assim, puff...

9.7.13

era meia noite e oito minutos quando o telefone tocou. do outro lado diziam "parabéns!". sim, x está tão encalacrada no meio de convenções internacionais esquisitissimas que chegou o seu dia de aniversário e nem se apercebeu disso!

30.6.13


Marissa Nadler - The sun always remind me of you

20.6.13


Julianna Barwick - Forever (Nepenthe)

este é o álbum que aguardo com expectativa em 2013.

às flores de laranjeira eu já sabia que era absolutamente alérgica. mas hoje, por fim, descobri o nome daquela árvores que há espalhadas por lisboa, que têm uma flores lilazes (ou roxas) muito bonitas e tal, mas das quais eu não posso sequer chegar perto sob pena de me saltarem os olhos enquanto espirro - jacarandás! porra, tanto ouvia falar de jacarandás e não fazia ideia que eram aquelas árvores do demo que fazem com que quando chegue ao rossio fique a esvair-me em ranho.

18.6.13



Antony and the Johnsons - Fistful of love

hoje lembrei-me do que era chegar a casa e ouvir repetidamente isto. hoje lembrei-me como isto tanto me deixava feliz como me levava às lágrimas. hoje lembrei-me de como a vida na altura era, apesar de tudo, tão mais simples, tão mais leve, tão mais tudo. hoje lembrei-me de coisas bonitas.
coisas aleatórias sobre x: gosto de lençóis brancos, e capas de edredon brancas, e de toalhas brancas. tudo completamente branco.

17.6.13



Sigur Rós - Kveikur

o álbum é lançado hoje mas eu já o ouvi de uma ponta à outra. a crítica parece que é boa mas a mim não me satisfaz. hoje a Pitchfork diz "Valtari sounded like a dead end, and it did turn out to be the end of Sigur Rós as we knew it." sim, é verdade, mas eu gostava muito mais deles antes. isto que fizeram agora soa-me tanto a birras de casal  desavindo a tentar sobreviver ao fim de algo que foi bonito...

13.6.13

ontem reencontrei-te pelas ruas da cidade. retalhado em pedaços e distribuído entre sorrisos de tons diferentes. espelhado em olhos de brilhos e luz. marcado nas primeiras rugas de expressão que acompanham o crescer da vida. ontem reencontrei-te pelas ruas da cidade. e ofereci-te um sorriso com traços de saudade. dissemos sem palavras: reencontrar-nos-emos em casa, até lá espalha flores pelo caminho.

7.6.13



Paus - Deixa-me ser

Paus, Largo do Intendente (mesmo mesmo pertinho da casa de x), 12 de Junho

4.6.13

x confirmou que (quase todos) os homens que se atravessaram na sua vida são completamente parvos!

3.6.13

x percebeu este fim de semana que é inepta a lidar com homens. x confirmou, também, o que já vinha há muito a suspeitar. vem-se a comprovar insistentemente a existência de um delay qualquer entre o momento em que podia ter sido e o momento em que x vem a  saber que podia ter sido mesmo. pelo meio há um hiato de, em média, dez anos, acompanhado de silêncio e distância absolutos. por fim, x assumiu que não deixa amigos nas relações de ontem. eclipsam-se. mas, ao que parece, não se esquecem. nem x. é uma cena estranha esta.

17.5.13

depois de um dia demasiado longo cheio de mensagens assim:

X I need you to revise...
X please confirm...
X I need you to prepare...
X please text me as soon as...
X I have some additional queries...
X I need your help...
X please translate...
X we need your opinion...
X can we move forward?
X next steps?
X please complete this assignment...
X we need your advice by COB today...
X may we, should we, must we...

receber uma mensagem assim:

X I seem to be losing my mind...

é coisa para me pôr a chorar a rir.

16.5.13

não vejo televisão e não gosto de futebol, logo não tenho conversa para a grande maioria das pessoas.

14.5.13



Music go Music - Just me



13.5.13

bilhete nas mãos: lisboa - frankfurt - pequim - ulaanbaatar - estepe - estepe - estepe - estepe - deserto de gobi - deserto de gobi - deserto de gobi - estepe - estepe - estepe - ulaanbaatar - pequim - munique - lisboa - ufa!
e para continuar bem o dia:
 
MONGÓLIA: CONFIRMADO!

9.5.13


M83 - Wait

send your dreams
where nobody hides
give your tears
to the tide
no time
no time
there is no end
there is no goodbye
disapear
with the night

e foi isto que me devolveu a calma hoje.

7.5.13

a primavera angustia-me. nas estações do ano como no resto da vida, gosto do que é com vigor. como o frio ou o calor; o amor ou o ódio. não gosto de compassos de espera. nem de indefinições. não gosto de meios termos. a primavera deixa-me a pensar coisas estranhas e em permanente conflito interior. deixa-me expectante, à espera sei lá bem de quê.

6.5.13

estou tentada a criar um separador chamado "porque estou quase a ir às fuças da colega do lado".

3.5.13

passei uma semana na terra onde cresci. as pessoas com quem partilhei a adolescência estão velhas como o raio que as parta. quando perguntei à minha mãe se eu também estava com aquele aspecto miserável ela riu à gargalhada. por via das dúvidas cheguei a lisboa e pintei logo o cabelo.
tenho vindo a perceber que @s (muito pouc@s) leitor@s deste blog são, em média, uns dez anos mais nov@s do que eu.
x tem vários defeitos. um deles é não ter o mínimo de paciência para gente que diz que é o maior da sua rua e depois vai-se a ver mesmo espremidinho não sai nada de jeito. mas x tem outros defeitos piores: aborrece-se de morte com muita facilidade, não disfarça o nojo que sente de algumas conversas, não suporta gente snob ou cenas pseudo - sobretudo se for cenas pseudo das artes, cenas pseudo das artes irritam muito x pois x acha que a arte é a expressão máxima da alma humana e, por isso, cenas pseudo das artes dão tanto nos nervos a x que x fica piursa de todo - e também rói as unhas.

2.5.13

é em férias que percebo que sou workaholic. sobretudo se for em férias sem praia. sem o sol e o calor e a minha tenda e o mar e livros cheios de areia fico meio perdida, sem saber o que fazer. hoje voltei ao trabalho e (shiuuuu... eu sei que isto agora vai parecer mal) fiquei contente por estar de volta.
coisas que fazem x passar-se dos cornos: ter uma nova colega de trabalho burra que nem um cepo.
declaração de irs entregue. não tenho um único beneficio, uma única dedução. estou chateada porra!

1.5.13

depois de qualquer tipo de répteis, roedores, bichos com escamas ou com ar pré-histórico, odeio moscas. odeio mesmo moscas. ora a minha casa tem muitas janelas e a portada da cozinha dá para o jardim dos vizinhos. a modos que começa a primavera, abrem-se as janelas, e a casa é invadida por moscas. já disse que odeio moscas? mas que odeio mesmo? para evitar andar a pulverizar químicos de cinco em cinco minutos, alguém sabe alguma fórmula mágica para me livrar destes bichos nojentos? velas, cheiros, plantas, mezinhas, bruxedos, rezas... qualquer coisa?


John Lennon - Power to the people

23.4.13

e ao segundo dia de férias acordo com uma mensagem de um cliente dizendo:

"Morning X, (...) I would like to thank you and your team for the great work."

e agora vou meter-me no carro e fazer uma viagem de quase 400 km com duas gatas doidas.




she may go to Hell, of course, but at least she isn't standing still.

ee cummings

trust your heart if the seas catch fire, live by love though the stars walk backward

ee cummings 

22.4.13


Marble Sounds - No one ever gave us the right

sol. sol. sol. sol. sol. sol. sol. sol. sol. sol. sol. sol. sol. sol. e mais sol...



Oláfur Arnalds & Arnór Dan - Old Skin

primeiro dia de férias. acordei às 11.25h. depois de dezenas de emails pessoais e de trabalho, vou pôr a casa a cantar com o oláfur arnalds e o arnór dan.  quando estamos em paz a vida é tão bonita!

21.4.13

é meia noite e dezoito minutos. estou oficialmente de férias. 

onze dias sem trabalho (esperemos!).

17.4.13

estou sem tempo suficiente para ver o mundo correr e/ou sentir o que quer que seja para além do cansaço. esta é a razão para este blog estar assim, algo vazio.

11.4.13

eram 2.35h quando enviei o último email do dia de trabalho. eram 2.43h quando desci à garagem e entrei no carro. eram 2.46h quando, por fim, liguei a chave. e eis que, de imediato, o leonard cohen começa a cantar a hallelujah na tsf. e eu largo a rir e a pensar que deus deve ter um sentido de humor do caraças.
a vida de x: acordei às 9.45h são 00.56h e ainda tenho umas duas horas de trabalho pela frente. a vida de x é uma boa merda é!

10.4.13



Dry the River - Weights & Measures

estes rapazes dão alguma dignidade à dor de corno. para além disso, o Peter Liddle - aka the heavily tattooed frontman of London's Dry the River - tem potencial para me causar calores.
odeio anchovas! talvez odeie mais anchovas do que odeio nabos. 

9.4.13


  
Bruce Springsteen & The Seeger Sessions Band - We Shall Overcome
 
há uns dias, alguém me enviou um link de um dos temas do álbum We Shall Overcome de Bruce Springsteen & The Seeger Sessions Band dizendo que, por qualquer razão,  esse álbum fazia esse alguém feliz. eu não conhecia. e nem sequer sou apreciadora do género, nem do Bruce Springsteen. mas, fugindo de preconceitos, pus a tocar do princípio ao fim. dentro do género, o álbum é muito bom e não me aborreceu de todo. mas foi ao chegar aqui, a este We Shall Overcome, que o mundo tremeu. eu até já conhecia uma versão velha e arrastada deste símbolo da luta pelos direitos civis na América dos anos 60 do século passado. mas - talvez pelo momento político-social que vivemos, ou talvez porque a letra tem muito a ver comigo, com a minha relação com o mundo e com os outros e, sobretudo, com alguns aspectos muito intrínsecos a quem eu sou e como eu me relaciono com as pessoas, em especial aquelas que me são (ou foram) muito -, à medida que ia ouvindo este tema tudo o resto desapareceu e fiquei aqui, perdida, no meio desta enorme esperança de que um dia tudo se resolverá.

8.4.13

foi com uns olhos muito brilhantes e marejados de futuro, mas também de uma profunda tristeza, que o queres antes aprender a voar ? nasceu em abril de 2007. entre lágrimas e risos, dor e alegria, desespero e esperança, trambolhões e sucessos, a minha vida teve o percurso que tinha de ter sendo, quase sempre, um percurso solitário. desde então, fiz muita coisa que queria muito fazer:  por ironia de deus (só pode) fui empurrada para fora do mundo que conhecia e onde me sentia extraordinariamente segura ainda que profundamente insatisfeita e com a permanente sensação que estava a viver pela metade; por obra de deus (só pode) tive um daqueles momentos em que se diz "sim ou não" sem pensar e quando me apercebi da dimensão da coisa já era residente oficial na república de moçambique; estava sozinha, absolutamente sozinha, e bastante perdida dentro de mim; depois apaixonei-me  pelo céu africano e pela praia e pela cor e pelo sorriso de quem só tem sorrisos para oferecer; fui à àfrica do sul inúmeras vezes, vi leões e zebras e girafas e rinocerontes e hipopótamos e hienas e gnus e leopardos e elefantes e mais gnus e mais elefantes e mais zebras e mais girafas; atravessei a suazilândia de ponta a ponta, onde vi vacas e mais vacas e burros e mais burros, e gente bonita, e mais gente bonita e terra vermelha cor de sangue e mais gente bonita e vacas, muitas vacas e burros; acampei na ilha de inhaca inúmeras de vezes e no xai-xai e na ponta do ouro; dancei até a noite ficar dia, descalça, na areia, suada e à chuva; bebi muita laurentina preta e aprendi a gostar de gin tónico nas noites quentes de maputo; tomei banho de mar em benguerra e em magaruque, subi às dunas gigantes da ilha de bazaruto, onde também tomei banho de mar na companhia de peixes de mil cores e de golfinhos; sobrevoei parte da costa moçambicana, fiquei boquiaberta com a paisagem cá de baixo; sobrevoei, sozinha, o continente africano várias vezes, vi o sahara lá de cima, e as luzes da europa abastada a aparecer estridentes e tornar a noite em quase dia depois de 10 horas de voo; conheci muita gente que me fez o coração saltar de esperança no futuro, mas também conheci gente feia, e má; consegui, sozinha mas com ajuda de deus (só pode), um bom trabalho que me trouxe de volta a portugal e vi esse bom trabalho tornar-se o trabalho quase perfeito em pouco tempo; passei a sentir-me em família com as pessoas com quem partilho grande parte do meu dia; descobri uma quase-vocação e vários interesses que antes não sabia ter; sozinha, interessei-me por filosofia e física e arte e religião e história; sozinha, aprendi a poesia, descobri whitman e cummings e bukowski e rilke, e apaixonei-me por rilke e bukowski e cummings e whitman; fugi muitas vezes para o campo na urgência de ter os pés descalços em contacto com a terra; peguei no carro sem destino e só parei quando o cansaço dizia que era hora; descobri sons que me são muito, vi concertos que queria mesmo muito ver, mas desisti de salas de cinema que me angustiam no seu ambiente fechado e negro; sozinha, chorei todos os dias durante anos - pela imensidão e pelo exasperante vazio, pelo silêncio e pelo ensurdecedor ruído, pela ausência, pela distância, pela falta, pela dor alheia, pela tristeza dos olhos de outros, pela desordem das coisas, pela injustiça -, chorei todos os dias durante anos por coisas minhas e dos outros, algumas meio parvas. e, às vezes, chorei mesmo por nada, só porque as lágrimas teimavam em cair; sozinha, aprendi que me podia expressar pelo desenho e pela a fotografia, mas ainda não consegui dedicar-me totalmente a nenhum deles; sozinha, escrevi muito, apaguei muitas coisas que escrevi, voltei a escrever, voltei a apagar; sozinha, enfrentei e perdi medos; mas fiquei sensível a tudo, e tudo me doía até à alma, até que passei a ser fria e indiferente as mais das vezes; depois agucei o sentido prático, objectivo, mordaz; e, às vezes, fui má; fui aos balcãs, atravessei a bósnia quase em silêncio, e a sérvia, e o montenegro e parte da croácia; fui  a barcelona e a londres; sozinha, chorei na tate modern em frente a um rothko; passei três semanas de mochila às costas na índia, não gostei da índia, nem da cultura indiana, mas adorei a viagem, a experiência, a comida, a companhia, o limite de tudo, passei horas e horas e mais horas em viagens de comboio e de carro, não gostei da índia mas esta viagem foi uma enorme experiência humana e uma prova de resistência e superação; sozinha, voltei a moçambique uma e outra vez; algo contrariada, fui madrinha de um casamento que acabou ainda antes de começar mas que teve de começar para acabar; fui ao casamento de duas amigas que decidiram, contra quase todos, mostrar que o amor não tem barreiras; contudo, decidi que não ia a mais nenhum cuja presença pudesse evitar e, por isso, recusei pelo menos três convites de familiares; sozinha, absolutamente sozinha, procurei casa durante dois anos, conheci de cor todos os websites de imobiliárias em lisboa, mas só visitei meia dúzia de casas porque tinha os critérios preço-tamanho-localização-estilo muito bem definidos desde o princípio; sozinha, apaixonei-me perdidamente por uma casa mas não a consegui comprar porque alguém se atravessou pelo meio; sozinha, fiquei chateada e quase desistia da procura, cansei-me, amuei, chorei de raiva, vi bancos fechar-me as portas dizendo "não, nem pensar"; senti-me desacompanhada, e incapaz, e impotente; sozinha, respirei fundo, voltei à procura e passados poucos dias decidi visitar uma casa que já tinha visto anunciada há meses mas que por obra de deus (só pode) vim a encontrar numa imobiliária quase insignificante a um preço muito inferior; sozinha, suspirei e disse "vou vê-la só porque sim". apesar de velha e semi-destruída reconheci-a mal entrei, sozinha, na porta. e pensei "esta é a minha casa"; por obra de deus (só pode) consegui, sozinha, um crédito à velocidade da luz e no espaço de um mês comprei-a, sozinha, contratei uma empresa e tratei das obras, sozinha; quando, passadas exactamente dez semanas, entrei na minha nova casa pensei "esta casa é mesmo eu"; empacotei restos de vidas passadas, deitei quase todos os outros fora, comecei do quase-zero; vi que uma casa não fica pronta, está antes em permanente construção, como o resto da vida, na verdade; envolvi-me com pessoas que não deixaram história e com outras que pela ordem lógica das coisas não devia ter-me envolvido, mas percebi que a vida, às vezes, nos prega partidas e que não devemos dizer nunca "desta água jamais beberei"; não me apaixonei por ninguém; mas encontrei uma espécie de alma gémea por breves instantes. e foi bom, foi tão bom, perceber que o mundo tem gente que nos percebe as entrelinhas; dediquei-me de corpo e alma ao trabalho, passei a ser reconhecida pelos meus pares, mas também passei a receber beijos na testa e festas no cabelo do chefe e abraços e risos dos colegas; ainda assim, apeteceu-me desistir muitas vezes, fruto da tendência permanente de fugir em direcção à liberdade; mas mantive-me firme no sítio desta vez pois algo me dizia "x, pára lá um bocadinho e brinca como a gente grande agora"; descobri que o meu sítio é onde estiver desde que esteja bem, mesmo que esteja sozinha as mais das vezes; recentemente, ganhei uma sobrinha que é um novo amor que vai gigantear com o tempo; e ganhei novas ânsias e a vontade de ir onde, em delírios, dizia querer ir. por isso, planeei ir, sozinha, à mongólia e ao combodja, hei-de ir aos dois lados entretanto;  e, sozinha, decidi ser mãe do coração, mesmo que nunca venha a ser mãe de barriga. embora tenham passado só seis anos desde aquele abril distante de 2007, parece que se passaram vidas. parabéns a este blog que me viu crescer e que foi, quase sempre, a minha única verdadeira companhia.

2.4.13

a minha nova colega de trabalho irrita-me até aos ossos!

1.4.13

nada me satifaz. nada me chega.

e eu só queria o silêncio das gargalhadas saídas dos olhos.
 
mas nada me satifaz. nada me chega.

 
Low Roar - Patience

anti-histamínicos e corticoesteróides. abril portanto!

25.3.13

detesto sushi. e não é pelo peixe. é mesmo pelo arroz e pela nori. detesto.
a sério, deus-nosso-senhor, às vezes, parece doido!

24.3.13


Sigur Rós - Ára Bátur

dizia eu há dias que ficou "um cheiro no ar como quem diz sim, amo-te até à dor, e é por isso que tenho de ir embora ou deixa-me, não me deixes. adeus, estou quase a chegar. foi assim!" dizia eu, também, que me soube a despedida. mal eu sabia porquê. aparentemente, o kartjan saíu da banda. e a separação sentiu-se no som. como em todas as histórias de amor, o fim sabe sempre amargo. sigur rós é mais do que as personagens que os compõe. é para lá delas. mas, como em todas as verdadeiras histórias de amor, quando uma parte da equação desaparece, a entidade criada ressente-se. destrói-se. ou reinventa-se. ainda que sem a inocência de antes. juntos fizeram mesmo magia. como as verdadeiras histórias de amor. o futuro será outro, com certeza. exploram-se novas formas. novos corpos. novos cheiros. novas vidas. mas a magia, essa, permanece algures num espaço intemporal. como nas verdadeiras histórias de amor. como neste ára bátur.


Sigur Rós - Brennisteinn

dizia eu que o futuro será outro. será. será este. onde se sente uma liberdade algo estranha. mas ressentimento também. e um certo cinismo. uma raiva contida. uma certa tristeza. misturada com despeito. a mistura é naturalmente explosiva. o sentir é cru. animal. e revolto. a essência está lá. mas quer-se ultrapassar à força. como quando acabam as verdadeiras histórias de amor.

22.3.13

ontem, ao lanche, alguém me pedia "x, conta-me lá a tua história", eu contei um bocadinho e do outro lado recebi um "foda-se, isso parece um filme do woddy allen".

20.3.13

detesto as palavras: namorar, namoro e namorado/a. também detesto as palavras: casamento, casado(s), marido e esposa. não gosto de relações que se definem em conceitos, ou pré-conceitos. mas gosto da palavra amor. para mim essa chega. e não se define. é.

11.2.13



Leonard Cohen - Waiting for the miracle

cruzei-me com o leonard cohen hoje. e, enquanto ouvia com mais atenção do que o normal, juntei duas memórias diferentes que jamais se vão cruzar. por um lado, alguém que de olhos esgalhados descobria que isto é mesmo um milagre e, por outro, alguém que em palavras mais curtas dizia algo como isto Ah baby, let's get married, we've been alone too long. hoje devia ter feito ouvidos surdos. hoje devia.

7.2.13

gostava de perceber porque é que alguém no seu perfeito juízo acha que o legislador se deve meter com os cidadãos na cama e definir a forma moralmente correcta que deve revestir o amor ou a família. juro que gostava. 
acabava de aterrar em moçambique. depois de sentir o calor africano bater-me na cara, respirei fundo e enviei uma mensagem que terminava com um "estou em África!". depois morri. e renasci. foi há seis anos e três dias. na linha descontinuada do tempo em que vivo parece que se passaram várias vidas.

6.2.13

a vida vai-me correndo bem. muito bem. melhor do que alguma vez me atrevi a pedir. é verdade. estou em contraciclo. e isso, sendo bom, põe-me também numa posição ingrata. é que quando alguns daqueles que me rodeiam falam de despedimentos ou redução de ordenados eu não posso simplesmente pedir a palavra para dizer "aumentaram-me e recebi um prémio bem bom". estou bem, mas às vezes, quase que sinto que tenho de pedir desculpa por não estar mal.
apetece-me vestir a minha casa de verão. mudar móveis. mudar cores. mudar tudo. apetece-me.

31.1.13



Devotchka - How it ends

pois então, que seja. e que para trás fique quase tudo.

"for ever is not so long" o caraças!

27.1.13

o sítio é giro. mas a comida é pouco mais do que decente, o serviço é a despachar e a clientela é um bocadinho wannabe. chama-se the decadente. eu suspeito que lá só volto para beber gins no lounge bar. 

23.1.13

nunca me entendi com o verde fechado do minho de onde parti. dêem-me o amarelo descampado do alentejo. ali sim, sou eu.
dificilmente conseguirei perceber como para uns é tão fácil ir e para outros é tão difícil não poder ficar.

22.1.13


Sigur Rós - Sæglópur

é uma história de amor que dura há muito muito tempo.

20.1.13

tomei todas as decisões importantes sozinha, resolvi sempre os meus problemas sozinha, respondi às minhas necessidades, consoante as minhas possibilidades, e sozinha. desde: sair de casa para ir estudar para longe; correr atrás de uma bolsa e de lugar numa residência universitária; arranjar trabalhos vários para pagar as contas que a bolsa não cobria; encontrar trabalho; mudar de trabalho sempre que me fartava do anterior; comprar carro; arrendar e montar casa; mandar tudo para trás das costas e emigrar; voltar ao país; procurar casa, encontrar casa, comprar casa, fazer obras na casa, mudar de casa...

enfim... nunca dependi de ninguém, nunca pedi nada a ninguém. nunca esperei ajuda de ninguém para decidir, ir em frente se fosse o caso e desenvencilhar-me o melhor possível.

mas agora preciso urgentemente de alguém que me meta juízo e me diga: x, vá lá, tu não precisas de um bmw x3!

16.1.13

a vida de x: se há uns tempos atrás me dissessem que algum dia me haviam de pedir para dar formação sobre coisas maradas a pessoal que faz explodir cenas lá para os desterros de áfrica, diria que estavam passados dos cornos.

15.1.13

em regra, durmo muito pouco durante a semana. mas nunca, mas mesmo nunca, na minha vida fiz uma directa. até hoje.
8.09 h da manhã. e eu sem dormir um minuto. foda-se!

14.1.13

já não posso com a história do cão.

 foram 10 anos de histórias. adeus passaporte. 

está na hora de abrir folhas novas. e limpas.

12.1.13

o que raio aconteceu lá pela bélgica para que toda a música interessante que tenho ouvido venha de lá?

10.1.13



Isbells - Time is ticking

... que é como quem diz "passa-te ao coiso" com jeitinho.


pela primeira vez a idade começa-me a fazer confusão. não porque me sinta ou pareça velha. antes porque, de facto, quando faço contas reparo que nova é que já não sou. e depois percebo que o desfazamento entre a minha idade mental e física é disparatado. é que eu ainda me sento no colo do meu pai como quando tinha cinco anos. no entanto, olhando mais de perto para a minha família semi-próxima vejo gente da minha idade que já é avô. até me podia dar para pior mas em vez de ficar deprimida tudo isto me dá é para rir. oh x hás-de ser uma velha gaiteira!

8.1.13

ponto prévio: eu sei cozinhar. contudo, há já demasiado tempo ganhei uma espécie de aversão à cozinha e a todas as tarefas conexas. escolher ou misturar os ingredientes é, mais do que uma ciência ou arte, um profundo acto de amor. estando nós vazios de sentires por dentro, todos esses passos passam a ser um pesado encargo. para além disso, sem os silêncios que se trocam por desnecessidade de mais, todos os sabores sabem ao mesmo. afinal, cozinha-se sempre para alguém. gostava de ser mais como antes. de passar horas ao fogão. de ter as portas de casa escancaradas. e de receber os demais com abraços de cheiros de canela, ou tomilho, ou hortelã, ou alecrim. mas por ora tenho poucos corações para distribuir. ainda assim, acho sempre que os blogs sobre comida são os mais bonitos. 

7.1.13

coisas de quem tem mais que fazer: a árvore de natal foi montada quase na passagem de ano e, por este andar, será desmontada lá para a páscoa.
a mulher certa escolheu o queres antes aprender a voar ? como um dos melhores blogs de 2012. na minha opinião é imerecido. não só 2012 foi um ano pobre na minha bloguisse, como estou certa que o número pequenino de leitores que por cá passam o não justifica. no entanto, foi simpático ver ali escarrapachado o queres antes aprender a voar ? mas nem é isto que me traz aqui. acontece que a propósito deste episódio vim-me apercebendo do burburinho na blogosfera com as nomeações de blogs do ano e coisas assim. eu não tinha noção, mas a blogosfera e os bloggers levam-se demasiado a sério.  capacitem-se, são só blogs, e bloggers, e cenas. o mundo para lá disso é muito mais. pronto, é isto.
porque hoje me apetece ser fútil: odeio sapatos tipo oxford.
quase lidos em 2013 #1

o remorso de baltasar serapião - valter hugo mãe

mais ou menos a meio. estou a gostar mais do que o filho de mil homens.
iniciando a onda be a bitch em 2013 assumo que traí a bobbi brown. troquei-a pela bare minerals. ainda não me arrependi.

6.1.13

lidos em 2013 #1

1 - O filho de mil homens - valter hugo mãe

resumindo, juntem bocadinhos de garcia marques com bocadinhos de laura esquivel e um senhor a escrever que sofre do síndrome de patinho feio assombrado por preconceitos do catolicismo ignorante a quem dá para misturar imagens quase escabrosas com outras absolutamente pueris. voilá - o filho de mil homens. não é bom. não é mau. é assim tipo dah.
2013 será o ano de por a leitura em dia, a bem da minha sanidade mental.

em curso:

O filho de mil homens - Valter Hugo Mãe

3.1.13

desopilar. é o meu verbo para 2013.

2.1.13


Green Day - Good Riddance

tinha sentimentos antagónicos quando corria as ruas de maputo a ouvir isto. se por um lado havia uma enorme vontade de seguir, por outro a tristeza parecia ser demasiado grande para carregar. mas hoje, acordei para o futuro vendo que afinal pode mesmo ter fogo de artifício no fim. sim, for what it's worth, it was worth all the while... e hoje o sorriso não me cabe na cara.