24.9.13



M83 - Wait


Ólafur Arnalds (feat. Arnór Dan)- For now I am winter

invejo-lhe o génio. admiro-lhe a humildade. arrepio-me com a música.

Mumford and Sons - Awake my soul

é isto que o mundo me grita ao ouvido - acorda x, está na hora!

23.9.13

ouvir da boca de alguém que tem vidas que nós achamos bonitas e cheias de tudo - incluindo filhos, família, estabilidade, segurança e sei lá que mais -, dizer a nós (que conhecemos a nossa vida demasiado bem e assumimos que é vazia de tanta coisa - incluindo filhos, família, estabilidade, segurança e sei lá que mais -) coisas como "às vezes invejo-te tanto!" é muito estranho.
 
 

Julianna Barwick - Dancing with friends

23 de outubro. Teatro Maria Matos, Lisboa.

eu vou!

19.9.13

embarquei no dia 21 de agosto com destino a Frankfurt. de lá, parti para Pequim. quando me sentei no avião da Air China, senti que estava, finalmente, a caminho das férias. partia em direcção o oriente. jantei, espreitei os filmes e, quando me começava a chegar o sono, reparei na luz imensa que vinha da minúscula frincha da janela. para mim, eram duas da manhã e a luz áquela hora absurda foi o meu primeiro choque. passei as horas seguintes numa espécie de vigília dormente. passadas umas horas, estava perdida no tempo mas ofereciam-me o pequeno almoço. não faço ideia que horas eram, mas o meu corpo dizia-me que fazia pouco sentido estar com uma omelete à frente naquele momento. abri a janela. lá em baixo estava a paisagem mais extraordinária que jamais vi do alto de um avião - a estepe mongol. atravessei grande parte da Mongólia pelo ar, antes de lhe por os pés no chão. entramos na China, sobrevoamos as montanhas gigantes e quase assustadoras, vimos a grande muralha - que afinal não é só grande, é inacreditável. aterramos. ainda pasmada, esperei pacientemente pelo próximo voo para Ulaanbatar. cheguei ao destino por volta das seis da tarde locais do dia 22 de agosto. estava sete horas no futuro relativamente à minha hora orgânica. não tive jetlag. quando cheguei ao hotel, verifiquei que ficava mesmo ao lado da meta do mongol rally. ri. como eu gostaria de chegar ali um dia montada num carro impossível depois de atravessar meio mundo! aumentou-se-me a vontade de o fazer, confesso. os primeiros dias foram de descoberta do grupo, da consciencialização da distância e do confronto com a dureza da viagem. a primeira surpresa foi descobrir que a nossa porta de entrada no Gobi tinha um imenso aroma a cebolinho. eram quilómetros infindáveis de terra coberta por flores de em tom lilás à entrada de um dos sítios que mais vontade tinha de conhecer no mundo. foram dois dias iniciais cheios de surpresas e imprevistos. e gargalhadas, muitas gargalhadas. já não me ria assim - a acabar em lágrimas - há meses. demasiados meses! vi a luz mais bonita da viagem em Baga Gazrim Chuluu, fui engolida por uma nuvem de areia em Tsagaan Suvarga, lavei-me em casas de banho públicas em Dalanzadgad e, ao quarto dia, chegamos a Bain-Dzak. sentei-me sozinha em frente ao colosso que são as Flaming Cliffs. quase chorei perante a obra de deus, ou do universo, ou sei lá de quem. contive-me. apreciei o silêncio. afoguei-me nele. fiquei ali. absorta. comovida. aquele momento seria eternamente só meu. a custo, levantei-me. e voltei à vida. caminhamos por entre a terra vermelha e reencontramos o caminho da viagem mais à frente. chegamos ao acampamento.  tomei banho num chuveiro improvisado, no meio do nada, enquanto um vento forte e quente tomava conta de tudo. os minutos que estive debaixo de água foram de uma paz imensa. assisti, de fora, a um ritual Xamã e fui invadida por um cansaço incontrolável que me fez quase perder os sentidos antes de chegar à pequena cama que me estava destinada. acordei por volta das cinco da manhã para as trinta horas mais mais extraordinárias de toda a viagem. depois do pequeno almoço, rumamos a Konghoryn Els, as dunas de areia que cantam. a viagem é belíssima, o Gobi é inexplicável, as palavras não chegam. chegamos ao nosso acampamento ao início do final da tarde. em frente ao nosso ger levantavam-se as enormes dunas de areia. o cenário era indescritível. andei em cima de um camelo durante quase três horas. o silêncio era só interropido por pequenas risadas aqui e ali. a paz era gigante. à chegada, sentei-me num pequeno tronco perdido a ver o sol cair. as cores no céu eram intraduzíveis. mais silêncio. (os sons interrompem-nos tanto, quase sempre!) o céu era omnipresente - aquele céu que parece tocar nas nossas cabeças, fazendo-nos insignificantes no meio do todo. no fim de jantar, a escuridão era apenas disfarçada pela luz ténue das lanternas. juntou-se-nos o chefe da família que nos acolheu e ouvimos a sua voz cantar histórias do deserto. quase chorei na penumbra enquanto bebíamos pequenos shots de vodka pura. adormeci embalada por uma enorme paz para acordar às quatro da manhã. estava frio mas tinhamos poucas horas até ao pôr do sol que queríamos ver lá em cima, sentados na crista da duna. fizemo-nos ao caminho quase perdidos por entre pequenos braços de rio intercalados por  zonas de lama e arbustos secos. por fim, chegamos à zona de areia. depois subimos, e subimos, e subimos. todos pensamos desistir a meio. mas todos chegamos ao fim. lá em cima, com as pernas doridas e os pulmões a gritar, sentamo-nos no topo do mundo com o sol a acordar à nossa frente. eram cerca de seis da manhã do dia 27 de agosto e estava a viver um dos momentos mais simples e bonitos da minha vida - o  sol tomava conta do manto imenso de dunas de areia do Deserto de Gobi. depois de quase uma hora imóvel de pasmo, desci-as. estava feliz!


o Deserto de Gobi é avassalador. a enormidade da paisagem inóspita - apesar de profundamente diversa - tira-nos a respiração. o silêncio é dono de quase tudo e só é incomodado pela ocasional passagem de um carro, uma moto, um rebanho... ou pelo vento. mas quando chegamos aqui, às Flamming Cliffs, ou Bain-Dzak, o vento calou-se. e o silêncio apoderou-se de tudo por alguns minutos. eu estava ali, sentada, sozinha e arrebatada por tudo o que se mostrava em meu redor. ao fim de uns segundos,  minha cabeça explodia de nada por dentro. o silêncio absoluto é estonteante.

17.9.13

ouvir ou ler frases como "numa relação com..." é coisa para me pôr os pêlos em pé. foda-se, a palavra "relação" é tão incrivelmente fria que não percebo como é que alguém a usa para expressar a  felicidade meio parva de estar com alguém que por alguma razão parece em determinado momento ser o centro do universo!

16.9.13


Portishead - Roads

já não os ouvia há tanto, mas tanto, tempo. mas cruzei-me com eles hoje. por acaso. ou talvez não. talvez não porque é exactamente esta pergunta que se me põe hoje how can it feel this wrong (?)

13.9.13

em tempos, este blog tenha uma espécie de efeito mágico. era algo estranho, mas tudo o que aqui expressava como vontade acabava por acontecer. obviamente, parte da magia dependia da minha enorme vontade que a coisa em concreto acontecesse de facto. depois a vida mudou, eu tornei-me mais ocupada, mais tranquila em vontades e, também, mais acomodada se calhar. consequentemente, esqueci-me do efeito mágico deste blog e de outras coisas também. mas agora estou disposta a recorrer a tudo para desencalhar um pingarelho que me atormenta há meses - vendam-me a puta da casa caraças! sim, ouviste deus dos blogs e arredores, quero comprar uma casa para os meus pais e preciso que as coisas desencalhem em três dias.

10.9.13

por opção, desta vez viajei sozinha. ou melhor, encontrei-me em ulaanbaatar com um pequeno grupo de pessoas que, pelas mais variadas razões, viajavam, também, sozinhas. cada vez me convenço mais que não sou por natureza um ser social. ou, pelo menos, ou sou-o cada vez menos na acepção comum da palavra. e, no entanto, consigo facilmente misturar-me nos outros, ainda que reserve sempre o meu espaço de quietude solitária com reverência. mas estou, ainda que pareça não estar. foi assim que um dos meus companheiros de viagem me definiu ao fim de uns dias de viagem: x, aquela que parece que não está, mas está! e constato demasiadas vezes que quase sempre estou mais presente em silêncio do que aqueles que mostram estar com ruído. mas o que eu queria mesmo dizer é que é curioso como as pessoas fora do seu palco e longe do conforto do conhecido conseguem facilmente resumir-se ao essencial e encontrar harmonia na diferença em virtude da sobrevivência ao inóspito. despidos de coisas, somos todos iguais. é o aparato material que nos afasta da origem das coisas. é isso é uma pena.
tenho testemunhado várias relações perfeitas, recheadas de declarações de amor constantes e de insistência na revelação pública do amor eterno que está na sua base, a cair de quatro de um dia para o outro. é o mundo que está louco ou são as pessoas que se iludem por quase nada vivendo mentiras numa base diária?
grande parte dos blogs que leio com alguma regularidade estão grávidos ou foram pais há pouco tempo. grande parte das pessoas com quem me cruzo diariamente estão grávidas ou forma pais/mães há pouco tempo. dá-me ideia que o mundo inteiro cresceu menos eu.
pode ser o vício da partida. pode ser a vontade de ser mais ar do que terra. pode ser a angústia da rotina. pode ser só a vontade omnipresente da fuga. ou pode ser só porque sim. a verdade é que ainda não desfiz a mala. não gosto de desfazer malas. entristece-me o regresso. e o fim do que quer que seja. talvez por isso me sinta impelida a pensar no próximo destino, até porque a vida de x é uma espécie de viagem permanente. irão, birmânia, kazaquistão e tajikistão são as vontades do momento.

9.9.13


 
The end of the ocean - On the long road home

poucos dias antes de partir, dizia a alguém preciso de horizonte, de calma, de deus... preciso com urgência de voltar a casa. mais uma vez a música é das poucas coisas que consegue sempre transmitir o meu estado de espírito, mesmo quando tudo o resto falha, ou é impotente para abarcar todos os sentidos. foi assim, como estes dez minutos de violência subtil de sons, que vivi estas três imensas, longas, extenuantes e extraordinariamente vivas semanas - num permanente caminhar pela vastidão do mundo exterior e interior. parti violentamente cansada de quase tudo e sem força para quase nada. voltei com o corpo dorido da dureza da viagem mas com a mente quase limpa e cheia de vontade de me lançar de novo ao mundo. encontrei o horizonte e a calma que precisava. e talvez tenha dado mais um passo para me reencontrar com deus e voltar a casa.

8.9.13


Bastille - Pompei

foi giro entrar num restaurante em Ulaanbaatar e ouvir isto. por momentos, fechei os olhos e no meio do enorme cansaço cantei em silêncio but if you close your eyes, does it almost feel like nothing changed at all? and if you close your eyes, does it almost feel like you've been here before?


















andamos cerca de 2000 km em estradas de terra, ou leitos de rios, ou apenas sobre a erva da estepe; subimos montanhas de pedra; atravessamos rios; passamos por zonas pantanosas debaixo de uma chuva de granizo, raios e trovões; vimos neve nos cumes das montanhas; dormimos em gers no deserto, em cidades, na estepe, nas margens de lagos; vimos iaques, e camelos, e cavalos, e ovelhas, e cabras, e vacas, e abutres, e milhafres, e águias, e roedores de todas as espécies; fizemos caminhadas diárias que duravam horas; vimos chaminés de fada e um mar gigante de areia vermelha; subimos dunas no deserto e vimos o nascer do sol lá em cima; depois, ouvimo-las cantar; tomamos banho em chuveiros improvisados no meio do Gobi, em banhos públicos e em rios; comemos massa com borrego, e mais massa com borrego, e mais massa com borrego, e mais massa com borrego...; bebemos cerveja e vodka mongol; andamos a cavalo; subimos a um vulcão; vimos o céu estrelado em noites frias; dormimos numa planície minada de ratos da estepe; visitamos templos; acordamos com um mongol bêbado no nosso quarto num hotel qualquer numa cidade cujo nome não me recordo; jantamos em sítios onde as ementas eram em mongol e os empregados não falavam uma palavra de inglês; fugimos de um ger cheio de insectos preto depois de quase intoxicarmos com insecticida; rimos; rimos muito; ficamos exaustos; e no dia seguinte ficávamos mais exaustos e rimos ainda mais; fizemos piqueniques no meio da vastidão da paisagem; desempanamos a equipa australiana do charity rally london-mongolia; fomos convidados para ir até à Tasmania; jogamos às cartas para passar o tempo da noite; dormimos com a lareira a arder para esconder o frio lá de fora; bebemos chá de leite e provamos queijos que cheiram e sabem mal como o raio; improvisamos casas de banho e, quando não dava para improvisar, usávamos as latrinas existentes; não vimos um duche durante dias a fio; ficamos descabelados, sujos, transpirados, encardidos, cansados, doridos, e fartos de massa com borrego; não consegui comer uma sopa cheia de pedaços de gordura a boiar sob pena de me vomitar toda logo após a primeira colherada; comemos muitas maçãs por ser a única fruta disponível nos mercados; e frutos secos a acompanhar a cerveja ao final de tarde; cruzamo-nos com poucos turistas e com poucos mongóis; andamos incontactáveis durante dias e dias e dias; ficamos com a cabeça a rebentar de silêncio e vazia de tudo o resto. por isso tudo e por tantas outras coisas que só se sentem, por não caberem em formas ou conceitos, foram dezassete dias do caraças.



voltei. de cabeça vazia e olhos cheios.