15.10.12

há pouco mais de cinco anos, escrevia sobre Bamako,filme de Adderrahmane Sissako que acabara de ver no Dockanema em Maputo. escrevia com raiva. ainda que temperada pela inocência própria de quem se espanta quando percebe a omnipresença do mal no mundo. foi em "Bamako" que, pela primeira vez, vi tão bem retratado o papel de organizações que parecem insuspeitas aos nossos olhos ocidentais. à minha raiva acrescia o profundo desalento que foi conhecer de perto o trabalho de algumas agências humanitárias , ou de cooperação, ou de ajuda internacional - ou o raio que os parta a quase todas -, que as mais das vezes não são mais do que grandes negócios. muitas vezes com propósitos deliberadamente desestabilizadores, manipuladores e perpetuadores da miséria. foi mais ou menos nessa altura que deixei de ter vontade de trabalhar para as nações unidas ou qualquer outra organização internacional do género. salvo raríssimas excepções, a política e os pequenos interesses de uma imensa minoria sobrepõem-se, quase sempre, à vida de quem não é mais que um número, uma estatística representada em dólares que, amealhados em banquetes de ricos, vão quase todos parar directamente ao bolso de outros igualmente ricos. tudo em nome dos pobres. a suprema barbárie, portanto. "Bamako" fala em primeiras vozes do sofrimento atroz, da manipulação pura, da descaracterização cultural e da aniquilação da identidade causadas pelas políticas imorais, torpes e gananciosas do alimentadores do banco mundial e do fmi. mas jamais imaginaria que viria a ver a europa sofrer com os efeitos do veneno que ajudou a criar. o texto termina assim; "No fim, e apesar de tudo, o filme acaba com uma certa esperança na mudança das coisas. Esperança que vem de pessoas que não têm razão nenhuma para esperar o que quer que seja. Uma esperança que, apesar de tudo, quase não existe no ocidente. A esperança de quem não tem nada a perder." na europa passa-se hoje o mesmo. propaga-se o sofrimento atroz, a manipulação pura, a descaracterização cultural e a aniquilação de identidades, destruídas às mãos das políticas imorais, torpes e gananciosas do banco mundial e do fmi. e, já agora, da bruxelas de hoje, e de todos os lobos financeiros que alimentam esses monstros insaciáveis. mas aqui, hoje, a esperança esvai-se e muita gente já não tem nada a perder. e é em momentos destes que o caos se sobrepõe à lucidez. é em momentos destes que a insanidade impera. resumindo,todo o sistema está alavancado num enorme embuste. e hoje, pela primeira vez, temo pelo futuro próximo da europa.

1 comentário:

Anónimo disse...

1...2...3...experiência

:)

PS: e aquela sensação crescente de que isto vai ter que romper por algum lado?