19.9.13

embarquei no dia 21 de agosto com destino a Frankfurt. de lá, parti para Pequim. quando me sentei no avião da Air China, senti que estava, finalmente, a caminho das férias. partia em direcção o oriente. jantei, espreitei os filmes e, quando me começava a chegar o sono, reparei na luz imensa que vinha da minúscula frincha da janela. para mim, eram duas da manhã e a luz áquela hora absurda foi o meu primeiro choque. passei as horas seguintes numa espécie de vigília dormente. passadas umas horas, estava perdida no tempo mas ofereciam-me o pequeno almoço. não faço ideia que horas eram, mas o meu corpo dizia-me que fazia pouco sentido estar com uma omelete à frente naquele momento. abri a janela. lá em baixo estava a paisagem mais extraordinária que jamais vi do alto de um avião - a estepe mongol. atravessei grande parte da Mongólia pelo ar, antes de lhe por os pés no chão. entramos na China, sobrevoamos as montanhas gigantes e quase assustadoras, vimos a grande muralha - que afinal não é só grande, é inacreditável. aterramos. ainda pasmada, esperei pacientemente pelo próximo voo para Ulaanbatar. cheguei ao destino por volta das seis da tarde locais do dia 22 de agosto. estava sete horas no futuro relativamente à minha hora orgânica. não tive jetlag. quando cheguei ao hotel, verifiquei que ficava mesmo ao lado da meta do mongol rally. ri. como eu gostaria de chegar ali um dia montada num carro impossível depois de atravessar meio mundo! aumentou-se-me a vontade de o fazer, confesso. os primeiros dias foram de descoberta do grupo, da consciencialização da distância e do confronto com a dureza da viagem. a primeira surpresa foi descobrir que a nossa porta de entrada no Gobi tinha um imenso aroma a cebolinho. eram quilómetros infindáveis de terra coberta por flores de em tom lilás à entrada de um dos sítios que mais vontade tinha de conhecer no mundo. foram dois dias iniciais cheios de surpresas e imprevistos. e gargalhadas, muitas gargalhadas. já não me ria assim - a acabar em lágrimas - há meses. demasiados meses! vi a luz mais bonita da viagem em Baga Gazrim Chuluu, fui engolida por uma nuvem de areia em Tsagaan Suvarga, lavei-me em casas de banho públicas em Dalanzadgad e, ao quarto dia, chegamos a Bain-Dzak. sentei-me sozinha em frente ao colosso que são as Flaming Cliffs. quase chorei perante a obra de deus, ou do universo, ou sei lá de quem. contive-me. apreciei o silêncio. afoguei-me nele. fiquei ali. absorta. comovida. aquele momento seria eternamente só meu. a custo, levantei-me. e voltei à vida. caminhamos por entre a terra vermelha e reencontramos o caminho da viagem mais à frente. chegamos ao acampamento.  tomei banho num chuveiro improvisado, no meio do nada, enquanto um vento forte e quente tomava conta de tudo. os minutos que estive debaixo de água foram de uma paz imensa. assisti, de fora, a um ritual Xamã e fui invadida por um cansaço incontrolável que me fez quase perder os sentidos antes de chegar à pequena cama que me estava destinada. acordei por volta das cinco da manhã para as trinta horas mais mais extraordinárias de toda a viagem. depois do pequeno almoço, rumamos a Konghoryn Els, as dunas de areia que cantam. a viagem é belíssima, o Gobi é inexplicável, as palavras não chegam. chegamos ao nosso acampamento ao início do final da tarde. em frente ao nosso ger levantavam-se as enormes dunas de areia. o cenário era indescritível. andei em cima de um camelo durante quase três horas. o silêncio era só interropido por pequenas risadas aqui e ali. a paz era gigante. à chegada, sentei-me num pequeno tronco perdido a ver o sol cair. as cores no céu eram intraduzíveis. mais silêncio. (os sons interrompem-nos tanto, quase sempre!) o céu era omnipresente - aquele céu que parece tocar nas nossas cabeças, fazendo-nos insignificantes no meio do todo. no fim de jantar, a escuridão era apenas disfarçada pela luz ténue das lanternas. juntou-se-nos o chefe da família que nos acolheu e ouvimos a sua voz cantar histórias do deserto. quase chorei na penumbra enquanto bebíamos pequenos shots de vodka pura. adormeci embalada por uma enorme paz para acordar às quatro da manhã. estava frio mas tinhamos poucas horas até ao pôr do sol que queríamos ver lá em cima, sentados na crista da duna. fizemo-nos ao caminho quase perdidos por entre pequenos braços de rio intercalados por  zonas de lama e arbustos secos. por fim, chegamos à zona de areia. depois subimos, e subimos, e subimos. todos pensamos desistir a meio. mas todos chegamos ao fim. lá em cima, com as pernas doridas e os pulmões a gritar, sentamo-nos no topo do mundo com o sol a acordar à nossa frente. eram cerca de seis da manhã do dia 27 de agosto e estava a viver um dos momentos mais simples e bonitos da minha vida - o  sol tomava conta do manto imenso de dunas de areia do Deserto de Gobi. depois de quase uma hora imóvel de pasmo, desci-as. estava feliz!


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