(hoje, x está demasiado cansada para escrever sobre isto. mas ainda tem força bastante para dizer algo como “mas chega o dia em que passa e depois lembrar só causa um leve sorriso de esguelha e um suspiro momentâneo”)
rasguei-te a pele com os dentes, mordi-te coração e cuspi-o, limpei a boca e segui.
naqueles dias aborrecidos, em que nada satisfaz, e as pessoas parecem todas cinzentas e sem graça, pôr uns bons fones com isto no volume máximo faz magia. pelo menos no caso de x fez. x passou o fim de semana assim: de calções e top descasados, com o cabelo apanhado em totós rebeldes empinados, descalça, e a saltar pela casa como se o mundo fosse acabar no momento seguinte.
soube bem.
Boggie Belgique - Avenoir
x tem tanto, mas tanto, o que fazer... e a vontade é quase nenhuma. o trabalho vai-se acumulando e tudo fica meio descontrolado. mas x não se tem importado muito porque, desde há dias, que a única vontade que tem é algo como oscilar entre um estado meio sonho e dançar pela casa ao som de coisas bonitas. hoje x está neste tom. tem os olhos muito brilhantes e um sorriso meio estúpido na cara.
depois de meia dúzia de meses estranhos, com ritmos de trabalho em solavancos - ora ia ora vinha -, com um projecto meio doido, e de montar uma equipa a partir de quase nada, com algumas acções engraçadas mas que deram um trabalho desproporcional e que não se vê...
depois da exaustão física e mental, e de x estar em modo bastante zangado com várias coisas, de dois meses e mais qualquer coisa em guerra surda, depois de meter medo a quem interessa com a perspectiva de x mudar de vida de vez, depois de umas semanas de férias para pensar no que podia ser a seguir, depois de um grupo enorme de gente em pânico a ver qual seria o próximo passo, depois de quem interessa dar, mais ou menos, o braço a torcer...
depois de fazer o desapego final de uma série de coisas...
x voltou à vida com um poder acrescido de fazer o que quer, como quer, com quem quer e da forma que quer.
e hoje x tem um projecto novo em mãos que vai obrigar x a aprender uma série de coisas absolutamente novas num país absolutamente desconhecido para x e com uma língua que x não domina de todo. e a esse juntam-se uns quantos mais no pais com que x trabalha há muitos anos e que é a sua segunda casa, onde x tem não só amigos mas pessoas de quem gosta muito, com quem se ri todos os dias e que todos os dias ensinam a x que o mundo é, afinal, pequeno.
depois de semanas de encontros e desencontros, de conversas difíceis, pessoas de antes a aparecer vindas não se sabe bem de onde e, sobretudo, uma pessoa de há tanto tempo e que durante tanto tempo se manteve em silêncio ter voltado a procurar x e passar a ligar-lhe todas as semanas quase so para ouvir a voz calma de x a dizer que “vai correr tudo bem”...
depois de pessoas novas que são hoje pessoas que importam muito a x provarem que x, apesar de anti-social, tem algum jeito para escolher companhias...
depois de noites sem dormir, e de noites dormentes com sonhos cheios de imagens confusas que so ficavam ainda mais confusas com a luz do dia...
depois de tanta coisa que aconteceu nos últimos tempos x sente de novo que tem os pés no ar.
x tem a sorte de, na viagem - quase sempre a solo - que têm sido os últimos 15 anos (os mesmos desde o nascimento deste blog) ter encontrado ao longo do caminho algumas pessoas que deram sentido ao trajeto. algumas mais circunstanciais que outras. mas todas, em algum momento fizeram chegar a x algo que x precisava.
como este som, que chegou a x ontem, no meio de um turbilhão de coisas que precisavam de ganhar sentido. era isto que x precisava de ouvir, o som, não tanto a letra. a letra já teve muito a ver com o que x viu por dentro em tempos. hoje x vê as coisas de modo algo diferente. o som sim, tem muito a ver com o momento atual de x - o olhar para trás em modo de exercício de despedida do padrão que se conhece demasiado bem, a resignação e, também, uma certa esperança que nasce do caos e faz com o que o horizonte se mostre de novo ao longe.
x está nesse sitio agora e sabe que do lado de lá está uma página em branco.
x chegou ao fim de um caminho que pareceu sempre demasiado difícil e demasiado longo. mas x chegou ao fim. e está agora à porta do resto que vem.
e a única certeza que x tem é esta: it’s time to go. somewhere. anywhere but here.
x está a ter uma semana esquizofrénica. x está bem. bastante bem até. mas à sua volta o mundo começou a girar e parece que x se tornou uma espécie de buraco negro que absorve todas as particulas aleatórias há muito perdidas que, irremediavelmente se espetam na cara de x com violência despropositada.
hoje x não atendeu um telefonema. o telefone tocou. x ficou a olhar para o nome enquanto ouvia o toque insistente. mas x não atendeu. custou-lhe, mas a força de x não é infinita. e x já teve que chegue esta semana.
a vida de x, em regra, é calma, plácida e até bastante aborrecida. mas quando o novelo se começa a desfazer, desfaz-se tudo ao mesmo tempo. e à velocidade da luz.
por isso, hoje, x não atendeu o telefone, e optou por ir até algures refugiar-se em sons bonitos.
x acabou de ter uma conversa que devia ter tido lugar há mais de 20 anos. confirmando tudo, absolutamente tudo, o que x sabia há muito, e do que x fugiu durante muito tempo. há mais de 20 anos, esta conversa não aconteceu por causa das circunstancias e da imaturidade. hoje x teria preferido que esta conversa não tivesse acontecido, porque significaria que x não se sentiria responsável por alguém ser infeliz. hoje x está absorta, triste… mas aliviada ao mesmo tempo. porque x sempre soube, como x hoje sabe outras coisas que pode ser que fiquem esclarecidas daqui a mais 20 anos.
Alan Watts + Sigur Rós - The Art of Meditation
a vida de x nunca foi difícil, sem que alguma vez fosse fácil. x já passou por coisas que muitos teriam dificuldades várias em ultrapassar. mas a vida de x nunca foi difícil, no que x entende por difícil. na verdade x sempre achou que a vida corre, sem que x se aperceba das dificuldades que todos os dias enfrenta, algumas tão enormes que só se percebem em perspectiva, à distância, fora da sobra do monstro. mas a vida de x não foi, nem é, fácil. é pesada, por vezes. complexa. cheia de nós, e de escolhas, e de sacrifícios, e de perdas. mas x, no momento, não os vê. porque ainda que x carregue o ontem e tenha os olhos no amanhã, x vive sempre no hoje, no agora. e por isso a vida de x é a resolver o imediato, o que está aqui. o ontem já não há forma de corrigir, e o amanhã ainda vem longe. isto para dizer que esta meia hora de sons tem muito em comum com a cabeça de x.
não é a primeira vez que x vê a vida de quem com x se cruza a virar de pernas para o ar - normalmente, para melhor, e a uma velocidade algo incompreensível, como se todas as peças perdidas tivessem encontrado par da noite para o dia. aconteceu de novo, está a acontecer neste preciso momento. a diferença hoje é que a pessoa em questão, depois de uns dias de surpresas e a ver a vida encaixar em poucas horas e a resolver por si problemas que pareciam não ter grande resolução, veio bater à porta de x e disse “tens de ser a primeira pessoa a quem conto isto, porque acho que és tu que estás a mudar a minha vida”. x sorriu, e pensou apenas “não, não sou”. x aqui é só um polo de agregação de energia, e de tranquilidade que permite aos outros ter a calma necessária para tomar decisões. e para olhar para dentro e ganhar a confiança necessária para dar saltos de fé. x não faz milagres, x é só x.
Não posso adiar o amor para outro século
x recebeu hoje o maior elogio que alguém alguma vez lhe fez.
x ficou meio pasmada e muito, muito, emocionada.
a vida de x é extraordinariamente bonita. as pessoas que hoje rodeiam x, também.
x sabe tem tem uma vida meio excêntrica, estranha para alguns até.
mas x também sabe que este é o seu caminho, a sua tribo.
x vai apreciando as pequenas coisas, como as cores, os sons e as pequenas expressões nos olhares dos outros, que são tanto e que tantas vezes não damos conta.
x dá. e agradece todos os dias essa capacidade.
mas x agradece, sobretudo, todas as coisas más que lhe aconteceram pelo caminho e que fizeram de x a pessoa que x é hoje. grata. e profundamente resiliente.
um raio de luz, e a cola que junta tudo, como hoje também disseram a x.