Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa
x lembra-se da primeira vez que leu este poema. já faz mais de 20 anos. foi num dia particularmente deprimente, numa fase da vida de x em que tudo era indefinido e incerto. em que x não sabia como ia ser o futuro. x estava num café distante, de uma cidade distante. sozinha. a pensar na vida. e estas palavras apareceram-lhe à frente, em forma de postal. x sorriu, porque ali estava a resposta que há muito procurava. "não posso adiar...". e x acha que foi nesse dia que a sua vida começou a montar-se. hoje, x voltou-se a cruzar com antónio ramos rosa. como que em tom de aviso. de novo. "não posso adiar..."