28.10.22


 Sigur Rós - Glósóli

depois de meia dúzia de meses estranhos, com ritmos de trabalho em solavancos - ora ia ora vinha -, com um projecto meio doido, e de montar uma equipa a partir de quase nada, com algumas acções engraçadas mas que deram um trabalho desproporcional e que não se vê...

depois da exaustão física e mental, e de x estar em modo bastante zangado com várias coisas, de dois meses e mais qualquer coisa em guerra surda, depois de meter medo a quem interessa com a perspectiva de x mudar de vida de vez, depois de umas semanas de férias para pensar no que podia ser a seguir, depois de um grupo enorme de gente em pânico a ver qual seria o próximo passo, depois de quem interessa dar, mais ou menos, o braço a torcer...

depois de fazer o desapego final de uma série de coisas...

x voltou à vida com um poder acrescido de fazer o que quer, como quer, com quem quer e da forma que quer. 

e hoje x tem um projecto novo em mãos que vai obrigar x a aprender uma série de coisas absolutamente novas num país absolutamente desconhecido para x e com uma língua que x não domina de todo. e a esse juntam-se uns quantos mais no pais com que x trabalha há muitos anos e que é a sua segunda casa, onde x tem não só amigos mas pessoas de quem gosta muito, com quem se ri todos os dias e que todos os dias ensinam a x que o mundo é, afinal, pequeno.

depois de semanas de encontros e desencontros, de conversas difíceis, pessoas de antes a aparecer vindas não se sabe bem de onde e, sobretudo, uma pessoa de há tanto tempo e que durante tanto tempo se manteve em silêncio ter voltado a procurar x e passar a ligar-lhe todas as semanas quase so para ouvir a voz calma de x a dizer que “vai correr tudo bem”...

depois de pessoas novas que são hoje pessoas que importam muito a x provarem que x, apesar de anti-social, tem algum jeito para escolher companhias...

depois de noites sem dormir, e de noites dormentes com sonhos cheios de imagens confusas que so ficavam ainda mais confusas com a luz do dia...

depois de tanta coisa que aconteceu nos últimos tempos x sente de novo que tem os pés no ar. 


23.10.22


Woodkid - In your likeness

x tem a sorte de, na viagem - quase sempre a solo - que têm sido os últimos 15 anos (os mesmos desde o nascimento deste blog) ter encontrado ao longo do caminho algumas pessoas que deram sentido ao trajeto. algumas mais circunstanciais que outras. mas todas, em algum momento fizeram chegar a x algo que x precisava. 

como este som, que chegou a x ontem, no meio de um turbilhão de coisas que precisavam de ganhar sentido. era isto que x precisava de ouvir, o som, não tanto a letra. a letra já teve muito a ver com o que x viu por dentro em tempos. hoje x vê as coisas de modo algo diferente. o som sim, tem muito a ver com o momento atual de x - o olhar para trás em modo de exercício de despedida do padrão que se conhece demasiado bem, a resignação e, também, uma certa esperança que nasce do caos e faz com o que o horizonte se mostre de novo ao longe. 

x está nesse sitio agora e sabe que do lado de lá está uma página em branco.

x chegou ao fim de um caminho que pareceu sempre demasiado difícil e demasiado longo. mas x chegou ao fim. e está agora à porta do resto que vem.

e a única certeza que x tem é esta: it’s time to go. somewhere. anywhere but here. 

20.10.22

 x está a ter uma semana esquizofrénica. x está bem. bastante bem até. mas à sua volta o mundo começou a girar e parece que x se tornou uma espécie de buraco negro que absorve todas as particulas aleatórias há muito perdidas que, irremediavelmente se espetam na cara de x com violência despropositada. 

hoje x não atendeu um telefonema. o telefone tocou. x ficou a olhar para o nome enquanto ouvia o toque insistente. mas x não atendeu. custou-lhe, mas a força de x não é infinita. e x já teve que chegue esta semana.

a vida de x, em regra, é calma, plácida e até bastante aborrecida. mas quando o novelo se começa a desfazer, desfaz-se tudo ao mesmo tempo. e à velocidade da luz. 

por isso, hoje, x não atendeu o telefone, e optou por ir até algures refugiar-se em sons bonitos. 


14.10.22

 x acabou de ter uma conversa que devia ter tido lugar há mais de 20 anos. confirmando tudo, absolutamente tudo, o que x sabia há muito, e do que x fugiu durante muito tempo. há mais de 20 anos, esta conversa não aconteceu por causa das circunstancias e da imaturidade. hoje x teria preferido que esta conversa não tivesse acontecido, porque significaria que x não se sentiria responsável por alguém ser infeliz. hoje x está absorta, triste… mas aliviada ao mesmo tempo. porque x sempre soube, como x hoje sabe outras coisas que pode ser que fiquem esclarecidas daqui a mais 20 anos.

10.10.22


Anathema - The Lost Song Part 2

depois de uma longa noite de insónia, o primeiro som que se cruzou com x foi isto... em tom de recado, para que x não se esqueça que o nada é cheio de tanta coisa.

in a lifetime
there's a moment
to awaken

....

and one day you'll feel me 
in a whisper upon the breeze
and I'll watch you stand there
unafraid


4.10.22

 

Alan Watts + Sigur Rós - The Art of Meditation

a vida de x nunca foi difícil, sem que alguma vez fosse fácil. x já passou por coisas que muitos teriam dificuldades várias em ultrapassar. mas a vida de x nunca foi difícil, no que x entende por difícil. na verdade x sempre achou que a vida corre, sem que x se aperceba das dificuldades que todos os dias enfrenta, algumas tão enormes que só se percebem em perspectiva, à distância, fora da sobra do monstro. mas a vida de x não foi, nem é, fácil. é pesada, por vezes. complexa. cheia de nós, e de escolhas, e de sacrifícios, e de perdas. mas x, no momento, não os vê. porque ainda que x carregue o ontem e tenha os olhos no amanhã, x vive sempre no hoje, no agora. e por isso a vida de x é a resolver o imediato, o que está aqui. o ontem já não há forma de corrigir, e o amanhã ainda vem longe. isto para dizer que esta meia hora de sons tem muito em comum com a cabeça de x.

3.10.22



Sigur Ros - Popplagid

x já os viu não sabe quantas vezes. e foi sempre assim que acabaram os concertos. no dia 28, em lisboa, foi assim outra vez. mas desta vez veio agarrado com uma angustia estranha. soou a despedida. não deles. minha talvez. despedida do que foi e não voltará a ser. foi bonito, e estranho, e triste… tudo, ao mesmo tempo.