27.9.11

não gosto de memórias. talvez por sempre ter tido tendência a não me conseguir desprender delas. por isso hoje não tenho nada no meu espaço com passado. hoje guardo apenas algumas coisas por dentro. e quase todas elas têm nome próprio. tudo o resto me parece acessório. na hipótese má é até incómodo. talvez por isso hoje não gosto de memórias. gosto mais do imediato. do que é. o que foi interessa-me pouco. ou quase nada. se foi e deixou de ser é porque já não importa que não seja. e se algum dia alguém quiser reconstruir a minha biografia terá dificuldade. da parte que diz quem fui há poucos registos. eu não guardo quase nenhuns. mas histórias há muitas. contudo terão de ser contadas em forma de voz de gente. daqueles cujos nomes próprios eu guardo. partilhamos algumas histórias. umas que já foram. outras que ainda são. e outras que esperam ainda para ser. mas as que já foram vão ser ainda no futuro. e as que ainda não aconteceram têm os pés no passado. são movimento. adiante e ao avesso. são ontem e hoje e amanhã. são aqui ali e além. mas isso não são memórias. são pedaços da nossa essência. de áfrica não guardo memórias. nem sequer saudade. de quem já fez parte da minha vida e já não faz não guardo memórias. nem sequer saudade. guardo isso tudo em forma de pequenos pedaços daquilo que sou hoje. sim, hoje não gosto de memórias. mas gosto de todos os pedaços que me são. e gosto de risos e abraços de gente de carne. tenho caixas por abrir. mas não me apetece. e já só me faltam queimar alguns papéis. já nada disso é meu. e tem tudo pó.

5 comentários:

João L. disse...

(num registo mais técnico … por assim dizer)

A memoria é independente do livre arbítrio. Pelo menos alguns tipos de memória. A memória parece ter um suporte físico, não é um mero “flash eléctrico” entre neurónios. O estímulo que chega ao encéfalo, nomeadamente ao hipocampo, deixa um rasto; novas proteínas são sintetizadas, a morfologia das células sofre ligeiras modificações… Fica lá a impressão digital. Como é que conscientemente se pode apagar isto, como é que se pode, pelo menos, tornar o processo ineficiente. Não quero ter memória desta memória que estou a ter. Isto é possível?

x disse...

com muito álcool é capaz de se conseguir! ;)

João L. disse...

Sabes que (tecnicamente) tens razão? No processo da memória há um receptor à superfície dos neurónios que é crítico no processo e cuja actividade é modificada pelo álcool.

João L. disse...

... e o receptor não é esquisito. Tanto aceita um gin como um Touriga Nacional do Borges ;)

x disse...

lolll... bem me queria parecer!