2.11.11

"you do know for yourself. and what you know is valid."



gosto do david lynch. mais do que dos filmes do david lynch. mas também gosto dos filmes do david lynch. (mesmo quando não gosto assim tanto.) david lynch tem este dom - fazer-me gostar de algo que normalmente odiaria, sem que isso me pareça demasiado estranho. david lynch dá-me liberdade de ver o que eu quiser ver nos filmes dele. sem dizer "estás errada, estás errada". e isso já é meio caminho para eu gostar dele. e dos filmes dele. (mesmo quando não gosto assim tanto.) e david lynch não me faz bocejar. e isso é raro. e deve ser sobretudo por isso que gosto dos filmes de david lynch. (mesmo quando não gosto assim tanto.) e isto ocorreu-me porque revi o eraserhead - que continua a incomodar-me como da primeira vez. vejo naquele ser de cabelos em pé a personificação de todas as frustações terrenas, vivendo algures entre o céu e o inferno. quase sempre no inferno, contudo. ou na apatia, o que talvez seja pior. assim sendo, o mundo que david lynch transpõe para a tela é bem menos abstracto do que à primeira vista parece. talvez seja exactamente isso que gosto no david lynch - a omnipresente capacidade de abstractizar o concreto. e talvez seja também exactamente isso que não gosto no david lynch - a omnipresente tendência de abstractizar o concreto. também gosto que haja uma moral sempre presente. mesmo quando tudo parece imoral ou amoral. gosto destas aparentes contradições. afinal de contas, nós somos mesmo assim - multipolares. quem não assume essa multipolaridade tem certamente uma vida mais simples. contudo, sem dúvida nenhuma, mais pobre. não, isto não é um post sobre cinema. é sobre a natureza humana.

3 comentários:

sem-se-ver disse...

poderia ter sido eu a escrever isto:
«gosto do david lynch. mais do que dos filmes do david lynch. mas também gosto dos filmes do david lynch. (mesmo quando não gosto assim tanto.)»

obrigada por o ter feito, melhor do que eu, por mim.

Maria Fonseca disse...

E eu gosto de ouvir o David Lynch cantar, mais ou menos o mesmo que gosto dos filmes do David Lynch.

x disse...

sem-se-ver - é uma querida.

Maria - bem... eu gosto do imaginário sonoro. mas confesso que aquela voz nasalada me dá nos nervos! prefiro-o a falar... ;)