8.9.13

















andamos cerca de 2000 km em estradas de terra, ou leitos de rios, ou apenas sobre a erva da estepe; subimos montanhas de pedra; atravessamos rios; passamos por zonas pantanosas debaixo de uma chuva de granizo, raios e trovões; vimos neve nos cumes das montanhas; dormimos em gers no deserto, em cidades, na estepe, nas margens de lagos; vimos iaques, e camelos, e cavalos, e ovelhas, e cabras, e vacas, e abutres, e milhafres, e águias, e roedores de todas as espécies; fizemos caminhadas diárias que duravam horas; vimos chaminés de fada e um mar gigante de areia vermelha; subimos dunas no deserto e vimos o nascer do sol lá em cima; depois, ouvimo-las cantar; tomamos banho em chuveiros improvisados no meio do Gobi, em banhos públicos e em rios; comemos massa com borrego, e mais massa com borrego, e mais massa com borrego, e mais massa com borrego...; bebemos cerveja e vodka mongol; andamos a cavalo; subimos a um vulcão; vimos o céu estrelado em noites frias; dormimos numa planície minada de ratos da estepe; visitamos templos; acordamos com um mongol bêbado no nosso quarto num hotel qualquer numa cidade cujo nome não me recordo; jantamos em sítios onde as ementas eram em mongol e os empregados não falavam uma palavra de inglês; fugimos de um ger cheio de insectos preto depois de quase intoxicarmos com insecticida; rimos; rimos muito; ficamos exaustos; e no dia seguinte ficávamos mais exaustos e rimos ainda mais; fizemos piqueniques no meio da vastidão da paisagem; desempanamos a equipa australiana do charity rally london-mongolia; fomos convidados para ir até à Tasmania; jogamos às cartas para passar o tempo da noite; dormimos com a lareira a arder para esconder o frio lá de fora; bebemos chá de leite e provamos queijos que cheiram e sabem mal como o raio; improvisamos casas de banho e, quando não dava para improvisar, usávamos as latrinas existentes; não vimos um duche durante dias a fio; ficamos descabelados, sujos, transpirados, encardidos, cansados, doridos, e fartos de massa com borrego; não consegui comer uma sopa cheia de pedaços de gordura a boiar sob pena de me vomitar toda logo após a primeira colherada; comemos muitas maçãs por ser a única fruta disponível nos mercados; e frutos secos a acompanhar a cerveja ao final de tarde; cruzamo-nos com poucos turistas e com poucos mongóis; andamos incontactáveis durante dias e dias e dias; ficamos com a cabeça a rebentar de silêncio e vazia de tudo o resto. por isso tudo e por tantas outras coisas que só se sentem, por não caberem em formas ou conceitos, foram dezassete dias do caraças.

3 comentários:

João L. disse...

Os céus são deslumbrantes. À noite deve ser indescritível.

x disse...

à noite, áfrica ganha! mas durante o dia, os céus são de cortar a respiração.

Hugo Pinho disse...

A descrição está fabulosa e deve ser uma ínfima parte da viagem! Muito bom, vejo que valeu a pena.
Sim, os céus estão maravilhosos. Parabéns pelas fotos.