15.9.14

não merceste as penas. não mereceste nenhuma das penas. oh x, enfim percebes.

3 comentários:

João disse...

Num dia de Verão, andava um ciclista extraordinário a pedalar à beira da falésia ali para os lados do cabo Sardão. Como de costume, encostou a bike numas estevas (é que depois fica aquele cheirinho durante todo o ano) e sentou-se numa pedra a olhar para o mar com ar de quem não espera nada. Sem perceber muito bem a cena, reparou que uma gaivota veio pousar mesmo ali ao lado, noutra pedra. Estranhou o caso porque já se tinha sentado muitas vezes nas falésias e as gaivotas nunca se aproximam, pelo contrário, quando o ciclista extraordinário se abeirava da falésia as gaivotas levantavam vôo, davam duas voltas sobre o mar e procuravam um poiso mais afastado. Aquela pedra pontiaguda barrada de branco pela merda das gaivotas - que, argutamente, o ciclista extraordinário evitou e não confundiu o branco da merda com reflexos de Sol em minerais de quartzo - devia ser o poiso dela. O ciclista extraordinário estava imóvel, tão imóvel que a gaivota não o deve ter visto (quem é que se ia sentar num local daqueles) e posou com um ar descontraído, até olhar para o ciclista. As cores maravilhosas do equipamento deste, o azul dos calções a contrastar com o laranja da jersey, as riscas verdes das meias a combinar com o branco e vermelho do capacete, devem tê-la impressionado de tal modo que, após uns 5 segundos de olhos nos olhos com o ciclista extraordinário, alvoraçou-se e levantou vôo. O ciclista reparou que simulataneamente com o estardalhaço da ave, um pena soltou-se, balançando lentamente para o chão, como uma folha de árvore no Outono. Olha, deve ser para mim! O Ciclista extraordinário atou a pena à bike e andou o ano inteiro com ela. Fez milhares de km por serras. Lama, chuva, sol, poeira, neve … A pena manteve-se igual a si própria. Uma bela pena. Claro que, de vez em quando a pena apanhava um banho e até um detergente suave que a mantinha em forma. Outros ciclistas chegaram a chamar índio ao ciclista extraordinário. Em vez de os mandar para a puta que os pariu o ciclista sorria, estava muito orgulhoso da sua pena (além de gostar de índios). No Verão seguinte voltou ao mesmo local, exactamente às mesmas pedras. Esta pena não é minha. Não mereco a pena. E o ciclista extraordinário retirou a pena da bicicleta, deu-lhe um sopro e largou-a. Empurrada pelo vento, foi pela arriba abaixo (o ciclista não sabe se chegou ao mar). Nessa altura passou uma gaivota. O ciclista ainda tentou perceber, sem êxito, se a ave o olhava de soslaio à medida que passava com aquele ar de “até que enfim o gajo traz a pena” mas esta voava a grande velocidade. Foi pena.

Suspeito que não é destas penas que x fala.

x disse...

oh pá!! João, se soubesses omo gosto dos teus comentários, vinhas aqui escrever todos os dias!!! :D

João disse...

oh x, nem sempre é possível juntar as tua penas às minhas :)

Um dia destes ilustro a história ali em cima com umas fotos (agora que entrei no mundo maravilhoso da blogosfera)