rasguei-te a pele com os dentes, mordi-te coração e cuspi-o, limpei a boca e segui.
31.12.18
Acabar o ano com esta sensação de comunhão com o ontem e o amanhã e estranho e irritante. Muito estranho e muito irritante. Mas x está envolta numa bolha que conhece há muito e que há muito não sentia. Uma bolha que lhe permite estar em comunhão com o ontem e o amanhã. Mesmo que x racionalmente preferisse apenas estar no hoje e, sobretudo, preferisse não sentir a cabeça lhe foge.
29.12.18
28.12.18
27.12.18
"returning to a state of oneness". foi isto que aconteceu a x ao ouvir uma meditação guiada. o tal estado de unidade não é estranho a x. voltar lá é voltar a casa. x tem resistido retornar a esse sítio. mas hoje teve necessidade de o fazer. e o corpo e a mente encheram-se de explosões e outras coisas que x não consegue explicar pois há sentidos que só sentindo. e x voltou ao mundo real mas ficou com um pé enterrado no lado de lá. e assim x retomou o estado de intermitência que há muito havia interrompido.
26.12.18
Antony and the Johnsons - Fistful of love
"I am a bird now" de Antony and the Johnsons foi um dos álbuns que x mais vezes ouviu durante todo o ano de 2006. 2006 foi um ano estranho na vida de x. foi o ano que germinou todas as mudanças dramáticas que viriam a acontecer na vida de x. em 2006, x contorcia-se a ouvir este "fistful of love". de agonia. x não sabia, mas isto anunciava o futuro. x esteve muitos anos sem voltar aqui. mas hoje abriu uma porta há muito fechada. e a agonia de ontem é igual hoje. 2006 ainda reverbera.
10.12.18
27.11.18
26.11.18
22.10.18
16.10.18
3.10.18
acerca do (quase) burnout de x:
x abrandou. consciencializou-se que o corpo e a mente tem limites. e procurou ajuda especializada para prevenir ou evitar um chilique definitivo - a sério que houve um momento em que x sentiu claramente que estava a milimetros de um shutdown mental. x está melhor, muito melhor. x está convencida que assumir que não se está bem é meio caminho andado para a cura. continuemos.
19.9.18
28.8.18
9.7.18
x hoje faz anos. x está mais velha, mais cínica, mais opaca, mais oca, mais fria. x deixou há muito de confiar cegamente nas boas intenções de quem quer que seja. x percebeu tarde que o mundo é filho da puta, e que a grande maioria das pessoas que aqui andam não se movem a bondade. há muito tempo que roubaram parte da alma de x. x não a recuperou. e de dia para dia vai constatando que é uma palerma alegre movida a principios rígidos que não viola por nada. às vezes isso traz beneficios. mas quase sempre só traz dissabores. x não se arrepende de ser assim. mas é muito mais difícil mantermo-nos em pé sendo como x é. x hoje faz anos. a idade não traz sabedoria nenhuma. traz apenas mais crivos.
4.7.18
há muito tempo que x não fazia isto - parar o dia de trabalho para escrever.
x não tem escrito. porque não lhe apetece. porque tem pouco de novo a dizer. porque a sua vida corre numa tranquilidade quase aborrecida. porque não.
x percebeu há muito que só escreve em desespero. em aperto. em dor.
escrever é como chorar. mas sem lágrimas. embora, por vezes, as lágrimas acompanhem também a escrita.
mas hoje x cruzou-se com ontem.
e a náusea das palavras retidas avassalou x.
há gatilhos que deixam x em pranto por dentro. podem ser cheiros, palavras, imagens ou sons.
em regra são sons. ou palavras. quase sempre palavras ditas ou escritas há muito. quase sempre com raiva.
palavras que ainda hoje dizem coisas que doem.
há muito tempo que x não fazia isto - parar o dia de trabalho para escrever.
mas hoje, x cruzou-se com ontem. e acordou palavras por dentro que precisam de apanhar ar.
x não tem escrito. porque não lhe apetece. porque tem pouco de novo a dizer. porque a sua vida corre numa tranquilidade quase aborrecida. porque não.
x percebeu há muito que só escreve em desespero. em aperto. em dor.
escrever é como chorar. mas sem lágrimas. embora, por vezes, as lágrimas acompanhem também a escrita.
mas hoje x cruzou-se com ontem.
e a náusea das palavras retidas avassalou x.
há gatilhos que deixam x em pranto por dentro. podem ser cheiros, palavras, imagens ou sons.
em regra são sons. ou palavras. quase sempre palavras ditas ou escritas há muito. quase sempre com raiva.
palavras que ainda hoje dizem coisas que doem.
há muito tempo que x não fazia isto - parar o dia de trabalho para escrever.
mas hoje, x cruzou-se com ontem. e acordou palavras por dentro que precisam de apanhar ar.
11.6.18
e ele chamou x. e x estendeu a mão. x não quer nada dele. mas x sabe que ele precisa de algo que x tem de sobra. esperança. resiliência. fé. e x dispôs-se a dar-lhe isso numa bandeja. sem pedir nada em troca.
6.6.18
nos últimos dias, x tem acordado com um fantasma em cima da cabeça.
x já não lhe vê a cara, nem as formas.
mas reconhece em tudo a sua presença.
e, sobretudo, conhece muito bem o espaço oco e escuro que se gera entre o conforto de estar perante um semelhante e a asfixia que esse semelhante lhe causa.
sim, x tem acordado com um fantasma em cima da cabeça.
e o asco e, sobretudo, o ódio que atravessa o tempo, são os mesmos de ontem.
x teme que o amanhã não seja diferente.
porque há almas que se recusam a fazer tréguas.
como se o conflito permanente fosse a sua razão de ser. e, sobretudo, de estar.
porque a derradeira paz dá medo.
e porque, se calhar, até as almas são covardes.
16.5.18
19.4.18
17.4.18
hoje foi o dia em que x falou, a sala calou-se, o chefe mor suspirou de alívio e o chefe mor mor curvou-se perante x. hoje foi um dia bom. e foi o dia em que x percebeu que o seu amanhã está delineado há muito. comecou no dia em que x se dispôs a arriscar a vida. no mesmo dia em que x enterrou tudo o que tinha como certo e descobriu um enorme abismo de possibilidades. hoje foi o dia em que x percebeu que o seu futuro não é nada do que tinha antecipado. mas que passa por algo infinitamente maior. x pasma-se. mas, apesar de tudo, tenta seguir com os pés assentes no chão. x não se deslumbra mas, vendo bem, tem muitas razões para estar profundamente orgulhosa de si.
16.4.18
nas últimas horas, x foi embrulhada numa névoa que há muito já não sentia.
não é sensação nova mas causa sempre ambivalência e confusão.
é como quando temos a cabeça debaixo de água.
a sensação é de profunda liberdade, comunhão e conforto.
mas intuitivamente sabemos que temos de sair dali rapidamente sob pena de nos afogarmos.
a névoa que envolve x é como um gigantesco mar.
não é sensação nova mas causa sempre ambivalência e confusão.
é como quando temos a cabeça debaixo de água.
a sensação é de profunda liberdade, comunhão e conforto.
mas intuitivamente sabemos que temos de sair dali rapidamente sob pena de nos afogarmos.
a névoa que envolve x é como um gigantesco mar.
15.4.18
14.4.18
Sigur Rós - Starálfur
o sinal estava vermelho. o trânsito estava compacto. por minutos perdi-me no silêncio e nas gentes que desciam a rua a passo lento. no meio de corpos avulsos, vi-te. davas a mão a uma criança mais ou menos da idade daquela que um dia planeamos em silêncio mas que nunca tornamos real. ias estranhamente devagar. como se a vida te pesasse. não te vi os olhos, nem os traços que cantam a alma. seguia-te nas costas como que pronta a amparar-te a queda. ias de asas fechadas e de cabeça vergada ao chão. depois desapareceste no escuro. então o sinal abriu. o trânsito desfez-se. e eu segui, como que obrigada pela pressa dos demais. segui. contrariada. e à procura do resto da tua imagem sem, contudo, saber se havias estado realmente ali.
os nossos reencontros serão sempre assim - entre o real e o imaginário.
28.3.18
19.3.18
x não sabe se é da idade. ou se simplesmente a vida ocorre por fases que se antagonizam a si próprias. mas, depois de um período difícil de desapego, x chegou a um momento na vida em que realiza que a razão do seu tormento durante a última década morreu. assim, plim. o que quase tirou a sanidade a x, não a não afecta mais. de maneira absolutamente nenhuma.
15.3.18
16.2.18
5.2.18
Gregory Alan Isakov - If I go, I'm going
x nem simpatiza muito com estas coisas do country folk, mas estas primeiras linhas conquistaram x:
This house
She's holding secrets
I got my change behind the bed
In a coffee can
I throw my nickels in
Just in case I have to leave
And I will go if you ask me to
I will stay if you dare
And if I go I'm going shameless
I'll let my hunger take me there
quando uma pessoa considera vender o seu apartamento - que está numa zona cobiçada do centro da cidade mas que começa a ser profundamente irritante - e comprar uma moradia rodeada de árvores e, para o efeito, pede uma avaliação e faz pesquisas de mercado sobre comissões de sociedades de mediação e afins, uma pessoa confirma que está, definitivamente, a ficar velha.
4.2.18
31.1.18
x está a ser acompanhada por uma equipa médica multidisciplinar por causa de alguns sintomas estranhos que vinha sentindo há uns tempos. depois de uma bateria de exames longa, hoje, finalmente, x teve consulta para discutir os resultados. a médica pegou no relatório e começou a descrever todos os sintomas que x sente há muito tempo. sem tirar nem pôr. estava tudo ali, naqueles números que a x não diziam praticamente nada. no fim, a médica disse "ah e você tem um feitio assim meio de gajo não tem?". x desatou a rir e disse "sim, desde que me lembro de ser gente, por isso essa parte não deve ter tratamento possível!". a médica prescreveu a medicação que x tem de tomar e daqui a dois meses - deus nosso senhor assim permita - estará tudo em vias de estar resolvido. menos a parte do feitio de gajo!
22.1.18
20.1.18
17.1.18
os livros de x:
x comprou-o há anos. começou a ler, mas na altura o corpo e a mente recusaram-se a continuar. há pouco mais de 48 horas x voltou a ele. e, de um sopro, leu-o de uma ponta à outra. para grande surpresa de x, apesar da linguagem quase hermética - e intencionalmente espiralizada (não é gralha, a palavra que x quer usar é mesmo "espiralizada", de espiral!) - x reconheceu-se claramente ali. por razões (talvez) mais físicas do que mentais, rudolf steiner sempre despertou impulsos pouco simpáticos a x. curiosamente, o próprio livro explica a razão de x lhe ter tido tanta aversão até agora.
“Love is an adventure and a conquest. It survives and develops like the universe itself only by perpetual discovery. The only right love is that between couples whose passion leads them both, one through the other, to a higher possession of their being. Put your faith in the spirit which dwells between the two of you. You have each offered yourself to the other as a boundless field of understanding, of enrichment, of mutually increased sensibility. You will meet above all by entering into and constantly sharing one another’s thoughts, affections, and dreams. There alone, as you know, in spirit, which is arrived through flesh, you will find no disappointments, no limits. There alone the skies are ever open for your love; there alone lies the great road ahead.”
“Love is an Adventure”
by Pierre Tielhart de Chardin
16.1.18
entre correrias por continentes distintos, doenças, má fortuna, imprevistos vários, cansaço generalizado e falta crónica de tempo e vontade, x não pegava em livros há muito. os de um autor em particular x deixou invisíveis durante anos, escondidos por outros que permitem a x distanciar-se mais daquilo que durante muito tempo x quis evitar a todo o custo. mas ontem x chegou a casa com um enorme reboliço por dentro. e depois de jantar sem grande vontade, em vez de se enrolar no nada como tem sido hábito nos últimos tempos, x dirigiu-se à estante e afastou os livros que camuflavam o resto. no fundo da estante, x reencontrou-se com os livros do rudolf steiner, deliberadamente apartados da vista há muito tempo. x pegou naquele que estava a chamar por si. leu cerca de 100 páginas de um sopro e adormeceu agarrada a ele. há algo de novo na vida de x, embora x não saiba ainda o que é. x não sabe se o rudolf steiner lhe vai dizer o caminho. mas ontem soube-lhe bem a sua companhia.
15.1.18
há dias em que uma força vinda de longe nos cobre o corpo e nos esmaga. e o ar falha-nos. x viveu assim em permanência durante demasiado tempo. depois adormeceu. mas agora está a ressurgir tudo de novo. e de forma avassaladora. x sabe que tem uma porta aberta para um mundo fora de cá. mas evita cruza-la. do outro lado é tudo demasiado. mas x sabe que quando os sentidos se misturam, quando o corpo parece pequeno para tudo o que nos vem, quando os olhos se perdem num horizonte que não é este, quando a mente fica frenética enquanto a boca se fecha, quando o peito parece explodir... é porque chegou a hora de enfrentar, de novo, esse sítio. talvez x consiga compreende-lo agora um pouco mais.
12.1.18
Sigur Rós - Á
quando x se sente em nó por dentro, volta aqui. e ali mais ao menos a partir do terceiro minuto, o peso que, de quando em vez, a consome por dentro, começa a desenlaçar-se. os olhos abrem como que estivessem a ver cores pela primeira vez. o rosto ilumina-se. os braços parecem abrir-se em forma de asas. e x resgata-se das trevas onde amiúde cai. quando acaba, x brilha. e mal consegue conter uma espécie de riso infantil que lhe invade a alma. a ouvir isto, x volta à casa de onde nunca quis sair.
5.1.18
x entra todos os dias na sala que partilhou durante anos com a amiga cuja doença levou. o nome da amiga de x continua marcado na porta. a mesa está vazia e, supõe x, assim se manterá por bastante tempo. a amiga de x desapareceu. mas os objectos, os papeis marcados com a sua caligrafia, os livros, as fotos... isso tudo, por enquanto, mantém-se neste plano físico em que estamos. a amiga de x desapareceu. para sempre. mas os dias correm iguais. e há uma estranha normalidade no ar. e essa estranha normalidade deixa x profundamente agoniada.
4.1.18
x não sabe se é só ressaca dos últimos tempos ou se é a crise da meia idade a ficar apurada. mas a verdade é que hoje acordou com a sensação que quase nada faz sentido e com vontade de mandar tudo para o caraças e mudar-se para outras paragens. x tem balançado em demasia entre a sua natureza nómada e a necessidade de paredes. as paredes têm vindo a perder importância, contudo.
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